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Muro de Cemitério Parisiense, Fotógrafa Flo Fox ©2011 |
Escrever não muda a carne, não eleva o espírito, não altera a forma ou a dimensão das coisas. Escrever, por mais que seja uma atividade visível, é antes de tudo um trabalho interno. É pintar as paredes de dentro de preto, é torcer as nuvens que se formam no peito até a ultima gota, é desaguar do rio ao mar, sem perspectiva de oceanos. Escrever não me ajuda, e também não me atrapalha, escrever me leva do nada ao coisa nenhuma, e então do coisa nenhuma de volta ao nada. Escrever é um ato contínuo, não sei porque prossigo, e jamais sou interrompido, então escrevo. A escrita é a minha memória, não a que a realidade impactou em meu cérebro, mas que a minha luz desenhou no meu vazio, o que me aconteceu, o que eu anseio e o que eu temo se misturam na escrita interna. Escrevendo eu me ouço, eu coloco o querosene na lamparina sem jamais ascender sua luz, eu tateio meu escuro, eu me adapto ao vácuo, ao nada. Escrever é minha maneira de gritar em silêncio. Escrever é o que faço entre uma linha e outra, entre uma vida e outra. Escrever é natural, é não só manchar de signos o papel, é ser o próprio signo, mas sem significado, fonética ou tradução. Quem escreve é o hieróglifo perdido pelo tempo nas paredes da pirâmide. É o incompreendido. Escrever é ser lido.
A fotografia escolhida é da fotógrafa americana Florence Fox,
conhecida como Flo Fox. Foi declarada cega e diagnosticada
com múltipla esclerose com 30 anos de idade. Porém isso não foi
o suficiente para impedi-la de continuar seu trabalho como fotógrafa,
e por sua coragem e talento ficou conhecida mundialmente.
"Eu tento lançar um exemplo pegando o negativo e tornando-o positivo,
não só na fotografia mas também na minha vida!"
Escrever é ser lido <3
ResponderExcluirUm texto lindo e um desfexo melhor impossível. Amei... Sempre ótimo; Sempre digno de ser lido..
(L)
Baiser amour
escrever às vezes é até torturante,
ResponderExcluirótimas linhas