22 de dezembro de 2009

Toda a tristeza, deixa lá fora, chega pra cá...♫




Fim de ano, chegou a hora da faxina, de dar uma geral, descongelar a geladeira, mudar a roupa de cama, fazer promessas que você não pretende cumprir.
Pois é, chegou a hora do balanço geral, de ver o que se ganhou, o que se perdeu des de que este ano entrou, ouvir aqueles comentários super manjados:
"Poxa o ano passou rápido não é?" passou mesmo, mas levou 365 dias pra passar, como todos os anos antes dele des de que o calendário romano entrou em vigor, e olha que faz tempo.
Pessoas entraram em nossas vidas, pessoas saíram de nossas vidas, algumas para sempre, outras para quem sabe.
Um dia é diferente do outro, num dia quieto em casa, num dia tem festa e eu vou, no outro é frio no outro é calor, vai entender os Deuses.
A vida é o que fazemos dela, é o que nos dizem sempre, e o que você faz da sua vida?
Será que este ano você não foi inseguro demais, não hesitou demais, não pediu conselhos demais, não jogou um peso enorme nas costas das pessoas que você mais ama?
Eu sim.
Eu fui inseguro, eu fui chato, eu fui grosso, eu fui ignorante, eu fui besta, eu fui tonto, eu quis que outros tomassem decisões no meu lugar, eu deixei um pouco de viver, eu me rasguei de trabalhar feito uma escrava branca, eu fiquei pouco tempo com minha família, eu não pude dar atenção a todos os meus queridos.
Quis me matar de amor, quis matar um ex, quis voltar com outro, quis me apaixonar por um rapaz novo, quis conhecer pessoas, dei cantadas, levei tocos, e estou terminando o ano no "0 x 0" emocional.
Me preocupei demais com o que não tive das pessoas, as festas que não me convidaram, os passeios que eu perdi, os amigos que se afastaram, os amigos que eu afastei.
Mas também alguns amigos antigos se aproximaram, os novos chegaram chegando ocupando meu coração, os intímos se tornaram mais intímos.
Vai me entender.



Queria escrever um texto legal sobre as reflexões do final de 2009, um ano muito importante pra mim, cheio de virgindades perdidas, de estilos mudados, de namorados perdidos, reconquistados, e devidamente assassinados.
de fotos, de planos, de provas, de vestibulares, de oscilação na balança, na balança da farmácia quis dizer.
Um ano de sonhos.
Onde a angustia foi a entrada, e incerteza o prato principal, o mau humor a sobremesa e a esperança a saideira.
Nós arrastamos uma bagagem a cada ano que passa, e a cada ano parece que ela fica mais e mais pesada, espero que consiga arrastar a minha até 2010 pra começar tudo bem, pois chega de preocupações, chega de lamentações, simplesmente CHEGA.
Não dá mais tempo, eu ainda caibo nas mesmas roupas, ainda sou feliz, ainda tenho com quem contar, ainda tenho a familia, ainda tenho uma garrafa de vodka na geladeira, um maço de gudang de canela cheinho e um salário no fim do mês.
É o suficiente pra começar o ano em grande estilo, cheirando a perfume importado, ouvindo os músicos que gosto gritando suas musicas, e eu repetindo feito um papagaio.
Para aqueles que entraram na minha existencia em 2009, aí vai um aviso:
Deveriam ter avisado vocês que a minha vida é um labirinto e que eu sou um minotauro doido e faminto, deveriam ter avisado que era um beco sem saída, é tipo prisão perpétua a minha companhia, e cuidado que ela causa dependência química do meu amor.
Não querendo fazer "a cobra", mas acho que meu veneno condenou vocês pra sempre.
E para os homens é claro, eu peço que entrem sem pedir licença este ano, que não se importem com as conveniências, com a distancia, que venham com tudo como um caminhão desgovernado numa ribanceira, venham com escova de dente, com creme de barbear, venham com chinelo, pijama, manias, com todos os seus pertences, venham com cachorro, família e com tudo o que vocês tenham.
Eu? eu quero pacote completo, com tudo o que eu tenho direito.
E agora pra encerrar este post de final de ano, vou abrir todas as janelas, armar uma rede, acender um incenso, ou melhor, vou logo acender uma vela pro meu Santo Antônio, e numa cueca boxer vermelha da Cavalera, prontinho pra só dizer "Sim!", com a minha casa e a alma lavada...
Vou escancarar os portões.















p.s. Um ótimo 2010 para todos os meus queridos!
Os amo!



Beijos sinceros...

16 de dezembro de 2009

Olhar para trás...


Coisas importantes foram deixadas no caminho,
Pedaços meus perdidos ao longo da jornada,
Sigo em frente, tropeçando, sozinho...
Um andarilho com os dois pés fora da estrada.

O anjo alto me feriu de cegueira,
Desde então, eu vejo tudo, e não enxergo nada.
Temo o futuro, e os homens que por brincadeira,
Torçam no meu peito, a faca que lá está cravada.

E atrás de mim, os escombros do passado,
Imploram aos Deuses um misericordioso final,
Escuto-os me chamando, estou condenado:
- Sei que ao olhar para trás, me tornarei sal.

Lot, Roberto Cavalcante Rodríguez



"E a esposa de Lot olhou para trás,
e ficou convertida para sempre
em uma estátua de sal..."

Gênesis, capt 19, versc 26.



O passado é sempre perigoso, talvez até mais que o futuro. Ja que o futuro ao menos, pode ser modificado.
O que deixamos lá atrás? O que perdemos? Onde erramos? Onde nos deixamos pisar? Onde pisamos em alguém?
Seguem ao nosso redor os fantasmas, que nos acompanham ás vezes durante anos, durante vidas.
O passado deve ser esquecido, deve ser superado, deve ser trabalhado, deve ser relembrado, inúmeras opções nos dão, para lidar com algo que ja aconteceu.
Escolha a que melhor se aplicar ao seu caso, e seja feliz. Simples não? Nem tanto.
O passado as vezes volta, e bate a sua porta.
Talvez por um milésimo de segundo, você o tenha desejado novamente, tenha o chamado baixinho enrolado em seu edredom, tenha lembrado e tenha sorrido, ou chorado, ou apenas lembrado, sem mais, e no Olympo, um capricho dos Deuses, fez com que vocês se cruzassem novamente, você e seu passado.
Sim, porque encontrar uma pessoa do passado, um amor do passado, um qualquer coisa do passado, não é apenas um encontro a dois e sim a três, ou a quatro. Explico:
Ao lado da pessoa, está o homem que ele era, e o homem que você era no passado, a pessoa que você foi, e com certeza não é mais, a pessoa que destratou ou foi destratada, a pessoa que magoou, ou foi magoada, a pessoa que esqueceu ou foi esquecida.
Sim, você enxerga seu amor novamente na rua, e vê seu passado andando ao lado dele, com uma expressão triste, ou feliz, depende do que tenham vivido juntos, lá está ele, acorrentado eternamente ao sujeito, afinal, mesmo que você não tenha significado nada para o cara, ele significou o suficiente, para que um pedaço de sua história ficasse eternamente ligado a ele.
Os anos passam, e a alquimia da vida da as caras. E tudo muda, se transforma, o chumbo vira ouro.
E então vocês se reencontram.
Dois seres diferentes, ligados por algo em comum, o passado.
E o que fazer em relação a isso? Olhar para trás é tentador, voltar, reviver, retornar, modificar, palavras sempre ligadas ao passado também.
Mas o passado é sádico, ele ensina, ele deixa marcas, e uma pessoa machucada, guarda eternamente o rosto do agressor, como se deixar tocar, pela mão que o apunhalou, mesmo sem querer?
"A mão que afaga, é a mesma que apedreja; escarra nesta boca que te beija..." ja dizia o poeta, a dor é passageira, mas a cicatriz não, ela sempre ficará visivel, e irá ser como um quadro pendurado na sua memória, lembrando a dor que lá esteve.
Será um trabalho árduo lidar com isso, pisar em ovos, luvas de veludo, jornais em volta do vidro, o passado deve ser retomado (quando o for) com todo o cuidado possivel.
A relação se torna um castelo de cartas, um sopro apenas para tudo ter um fim, novamente.
O meu passado, bateu na minha porta um dia desses, era o "Altão".

Mini-Flash-Back a respeito do "Altão"
(Ele era bem alto, muito mais alto que eu, quando se aproximava para me dar um abraço, sentia como se uma onda estivesse me encobrindo, sua sombra se espalhava no chão ao meu redor, e subtamente me sentia protegido, preenchido, quase transbordando.
Tinha olhos verdes escuros, escondidos atrás de um óculos antigo, e me olhava de uma maneira quase inocente. E quando seus olhos faziam conjunto com sua boca, se contraindo em um sorriso sem graça, e sua pele branca ganhava tons avermelhados, sentia a certeza de que aquilo, devia ser o amor.
Tinha as pernas compridas, e numa bermuda ganhava um ar desajeitado muito gostoso de se ver, acho que ele inteiro era gostoso de se ver, como uma obra surrealista contemplativa, ficava horas apenas o observando em silêncio, ele havia me encontrado, e acabamos nos encontrando.
É estranho conhecer alguem desconhecido, mas ao mesmo tempo tão intimo.
Vivemos um encontro, e um desencontro.
Eramos de planetas distintos, nossas personalidades entravam em choque constantemente, eu querendo ser mais velho do que era, mais certo do que era, mais bobo do que era.
E ele querendo que eu o aceitasse como era, sem nenhuma adição de contos-de-fada, sem nenhuma fantasia, ou expectativa, apenas queria me servir a realidade, numa taça de ouro, ele era real.
Era de carne e osso, tinha um passado, um presente e um futuro, não era um dos meus personagens perfeitos, e dizia isso constantemente, ele não me lia, ele não me entendia, e acho que ele não o queria.
Ele e eu eramos muito parecidos, inseguros, orgulhosos, e egoístas acima de tudo.
Viviamos também em cidades diferentes, em planetas diferentes.
Ele tinha a prerrogativa da idade e da experiência, e eu não tinha armas secretas, mistérios, era nú.
Falava o que sentia, mas não sabia o que sentia, muito menos o que falava.)

Retomando...
Eu jurava que desmaiaria só de vê-lo de novo, que me tornaria sal, se por um instante o encarasse nos olhos novamente.
Mas não, acho que me tornei sal assim que terminamos, mas não uma estátua de sal, e sim um homem de sal, salgado, dificil, complicado, e ao mesmo tempo, bem temperado.
Mudei, é o que acontece depois que o passado finalmente passa, depois que as rodas giram, e as lições são aprendidas.
A gente muda, e não compreende mais o passado, se arrepende, se culpa, se bate, se xinga por ter se deixado passar por tudo aquilo, que vontade de desaparecer que dá.
Meu passado queria entrar aos poucos no meu presente, e eu o cortei, o interrompi prematuramente.
Não tinha tempo, não podia lidar mais com os problemas que passaram, não podia mesmo lhe dar outra chance, sei que ele tem uma intenção escondida sempre.
Não poderia passar por tudo de novo, ou melhor, com certeza poderia, e desta vez mais preparado, sem mais nenhuma cicatriz, mas simplesmente não queria.
E agora, ele está aqui do meu lado, o maldito passado.
Estou arrependido por eu não te-lo vivido em sua plenitude quando ele aconteceu, e estou confuso por ter desejado em meu intimo que ele retornasse, e agora que finalmente ele retornou, eu o interrompi.
Que homem sou eu?
Sinto a sombra dele debruçada aqui sobre mim, enquanto escrevo, vejo a claridade de seus olhos meio claros, meio escuros seguindo os movimentos que a minha caneta azul traça no papel branco, com o seu jeito, o seu sorriso um pouco doloroso, um pouco distraído, um pouco infantil, ele inspirou cada emoção e idéia, cada profundeza de pensamento...
Droga! Altão, é verdade, você segue aqui do meu lado, e eu o amo a minha maneira.
Você é o homem que eu inventei, cada detalhe teu, cada qualidade, cada defeito fui eu quem lhe atribuiu, não bebi da realidade que me serviu antes, mas hoje a aceitaria com gosto, e daria largos tragos nela junto com você.
E se quer estar no meu presente de verdade, se realmente me quiser, deixa eu conhecer o homem por trás da metáfora, deixa eu tocar e beijar aquele moço de verdade, que eu encobri com a minha desmedida imaginação.
Eis aqui a minha ultima confissão: Posso ser novamente a sua propriedade? Eu ainda preciso do seu toque macio, do seu amor, do seus beijos e tal... E a ferida? Cuida dela, pois ela se encontra no meu peito, e ele (ainda) é teu.


p.s. Este post pertence a um moço muito alto do meu passado,
que aqueles que vivem no meu presente o passem adiante...



Beijos sinceros...


18 de novembro de 2009

Leão


Não existe de fato nenhum signo em particular no zodíaco com qual eu seja mais compatível, costumo me dar bem com todos, mas não se deixe levar pela bondade aparente, na maior parte do tempo, não confio em mim mesmo.
Minha mãe me acha perfeito, e eu sempre acredito no que ela me diz, outro fato considerável da minha personalidade.
Me sinto várias vezes por dia, como se fosse um presente dos Deuses há humanidade, ou mesmo uma sabotagem das forças do mal, isso quando não penso que irei acabar morrendo de uma overdose de satisfação comigo mesmo.
Carrego um reino de cristal reluzente dentro de mim, delicado, sensível e bem escondido,  debaixo de uma juba bem tratada regada a L'Oreal.
Minhas pedras nos rins, são na verdade cristais Swarovisk.
Meu sangue não azul, é metal liquido, mercúrio, correndo, deslizando e me envenenando grande parte do tempo.
Eu sou de leão, com ascendente em leão, e vênus em leão também, qualquer um que entenda de astrologia deve ter entendido esta ultima frase da seguinte forma: blah blah blah sou Belzebu.
Encaro o amor como uma missão, uma odisséia, um conto lírico e mítico, que acontece mais na minha cabeça do que na própria realidade, trago todo o mundo das qualidades dentro de mim, e costumo me enamorar pelos defeitos dos outros, infelizmente.
Sou um homem difícil, de gostos caros, quase um exaltado, eternamente insatisfeito, eternamente pedindo mais, guloso e insasiável.
Mas um Jaguar, não pede desculpas ao seu dono, por sua manutenção custar $10.000,00 , portanto não espere isso de mim também.
Fidelidade, não é uma palavra muito familiar quando é amor a pauta do assunto, prefiro Lealdade, a mim mesmo e aos meus desejos claro.
Amizade sim, algo que amo cultivar, e a cada ano me aperfeiçoo nisso, com a ajuda dos meus súditos, quero dizer, amigos.
Rei, jamais, adoro enganar a mim mesmo, de que não ostento coroa em parte alguma do meu corpo, e tenho fases, mas são mais rápidas e violentas, são as fases do Sol, ora ardente, ora congelante, porem sempre presente, abandonar é algo extremamente difícil para mim, assim como amar.
Pior que amar, é me permitir ser amado, é tangir a realidade de um relacionamento, sem o glamour da minha criatividade.
Fogo, é um ótimo elemento a ser comparado, luz, calor, criação, devastação, altos e baixos, extremos dentro de mim.
Eu sou a casa, a mansão inteira na realidade, onde a elegância decidiu viver permanentemente.
A covinha no meu lábio superior, aconteceu de uma forma engraçada, quando nasci, um anjo desceu da Constelação de Leo*,
e me contou um segredo: "Lhe dou o Orgulho, guarde tudo para si, não deixe saberem o que se passa aqui dentro..." e então tocou meu lábio e disse: "shhhh, é o nosso segredo!" e desapareceu, para sempre. Guardei bem o tal segredo.
Enfim, sou um Leonino, um dos mais leoninos que já conheci, meu ursinho carinhoso favorito era o Coração-Valente.
Me ame, ou me erre, minha mente vai do sagrado ao profano em menos de um milésimo de segundo.
Sou um Jaguar mesmo, de dificil manutenção, mas que vale a pena ser ostentado, ao lado de quem quer que seja, e os elogios tedem a funcionar melhor comigo, do que chocolates e flores, mas não confunda isso com bajulação. 
Me canso fácil, e na minha corte não admito bobos, sinto a ervilha por debaixo dos vinte colchões se necessário.
Meu nome é Roberto, e desde o fatídico dia 6 de agosto de 1987, sou um leonino. 
Me desculpe, mas não posso te ajudar a ser um também, eu ja nasci assim.
A carta da Força no Tarot, o Sol na galáxia, a França do mundo, único.
E se você se identificou com alguma coisa aqui, deve haver um leão rugindo tímidamente numa das casas do seu mapa astral.
Estou me sentindo infeliz, incompleto, mas isso não é motivo para deixar de sorrir.



Sem mais, beijos sinceros.


12 de novembro de 2009

João Antônio, o Príncipe...







João Antônio é príncipe, é  belo do seu jeito, é sério, mas já foi sapo, foi feio, foi puro sexo...
Foi o sapo de outro João, do Renato, do Claudemir, do Diogo, do Nando, da Natália na adolescência. Foi muito feio na puberdade, teve inúmeros apelidos: Narigão, Napa, Choquito branco, Tablito;  e muitos outros, todos evidenciando suas espinhas, seu nariz grande, seu jeito desengonçado.
João Antônio já se apaixonou uma vez perdidamente por um rapaz mais novo e muito mais belo que ele, e assim como um vampiro o tal rapaz sugou seu pau e suas fantasias sobre um dia viver um grande amor, e sugou bem, até a ultima gota, até machucar o corpo e o coração de João Antônio com seus aparelhos dentais.
E então depois disso, João Antônio ficou diferente, ficou um pouquinho mais bonito, mais sozinho, quis tirar um pouco de proveito da vida e quis transar mais, quis sentir o seu corpo, quis se apaixonar de novo, e foi isso que fez.
Transou feito um louco, se apaixonou por todos que conheceu, por seus amigos, por metade da cidade, e por metade de si mesmo. Era descrito como um rapaz alto de aparência mediana, voz grave, e  era bom de cama. E sua vida se desenrolou assim por muito tempo.
Fora isso João Antônio também trabalhou, e trabalhou muito, dentro de sua enorme cidade só conseguia pensar nisso, trabalhar, trabalhar e trabalhar...
Depois de um certo tempo, quando cansou das maratonas de encontros as escuras com garotos virtuais, de sexo fácil, ele comprou seu primeiro carro, e decidiu que estudaria pra valer, que faria uma faculdade.
E foi o que fez. Informática.
Conseguiu entrar na faculdade de seus sonhos, aos 23 anos, quando um único fio de cabelo branco havia crescido sorrateiramente em sua nuca. Percebeu que durante as aulas não conseguia enxergar bem as letras na lousa ou mesmo no computador de seu trabalho, o oftalmologista apenas disse uma palavra: Miopia, e João Antônio teve que começar a usar óculos também. A idade havia chegado.
Estava finalmente bem, estável, estagiando, bem remunerado, ok, não tão bem remunerado assim mas se sentia útil e isso já é um bom começo. Tinha um bom emprego, tinha seu carro do ano que não vem ao caso, estava cursando sua tão sonhada faculdade e sempre tinha um trident de menta-verde-escuro em seu bolso para os momentos de crise.
A princípio ele não percebeu, mas não demorou muito e ele notou. Não ia mais com tanta frequência para baladas e há dois anos não entrava em nenhum dark-room. Já não enxergava os homens como costumava ver e isso não era mérito de sua recente miopia, fora que fazer sexo se tornou algo tão distante e deixado pra ultimo caso, como frequentar um bom cabeleleiro.
João Antônio via seus amigos regularmente, até ajudava em casa com um pouco do salário, o que restava. Toda a sexta tinha a cervejinha com seus amigos nerds da Faculdade, mas fazia meses que João Antonio não abria o ziper da calça com uma intenção menos cristã, há meses sua única companhia era sua fiel mão esquerda, sim, era canhoto.
João Antônio olhava para si mesmo diante do espelho e não se reconhecia, colocava a pasta na escova de dentes enquanto se perguntava "Cadê o João Antônio sapo? E o chokito? E o narigão? E o alto bom de cama?"
Sem que ele percebesse eles haviam se transformado. E agora, com a regata velha que usava pra dormir, sua imagem o olhava refletida no espelho, lá estavam apenas o João Antônio amigo, o maduro, o sério, o príncipe.
Um príncipe alto, bem vestido, com óculos de grau, uma pequena tatuagem discreta no braço, fruto de sua rebeldia passageira, agora com vários fios de cabelo branco, 25 anos, um jovem-moço, um jovem príncipe.
Porem solitário. Afinal, toda a graça dos contos-de-fada é encontrar ou transformar o tal do príncipe encantado. Um príncipe já feito sozinho, não chega a ser tão interessante quanto um sapo, ou mesmo uma fera.
Estava sentado na mesa da biblioteca da faculdade com nove exemplares de livros diferentes, pensando justamente a respeito de como havia mudado, em como havia crescido, porém sem ninguém ao seu lado pra ser testemunha ou mesmo notar mudança.
E foi aí que o outro entrou. Taciturno, silencioso, como um gato (gordo) doméstico.
Entrou,  sentou do outro lado da sala bem no canto, jogou sua pesada mochila no chão, abriu um livro, e desapareceu. Lia tão atenciosamente que parecia ser invisível lá dentro, um ser etéreo, um adorno da biblioteca.
Mas João Antônio o viu.
E o viu claramente, como se aquele moço discreto e silencioso fosse o Sol, uma estrela de fogo tentando inutilmente ocultar seu brilho. 
João Antônio voltava sua atenção para os livros e resumia algumas linhas, mas não podia deixar de observar em silencio o moço do canto, e o observou por muito tempo.
João Antônio escondido atrás de seu livro e o tal "Sol" escondido atrás do livro dele.
João Antônio o analisava completamente, e o pobre moço nunca julgaria em seus sonhos, que despertaria tamanho interesse em um desconhecido. Ele viu o seu tênis, sua calça jeans, sua camiseta branca, estilo polo, podia alguém ser mais discreto que isso? O rapaz era gay, sem dúvida, tinha uma aura sensível demais para ser um homem hétero.
João Antônio viu que o tal rapaz tinha tatuagens bem visíveis, uma bem no pescoço, com algo escrito, ilegível aquela distancia, aquele disfarce.
E quanto mais o olhava, mais interessante o moço no canto da sala ficava.
Não, aquele moço ainda não havia se transformado em um príncipe como João Antônio, mas também nunca havia sido um monstro ou uma aberração.
João Antônio ainda não sabia, mas vou dizer a vocês, o nome do rapaz é Roberto.
Roberto é o moço que escreve a crônica, que é dono do blog, que ainda não é príncipe, mas é mago, de aparência calma e simpática, cabelos e olhos bem escuros, contrastando com sua pele morena tentando ser branca.
Porém Roberto já foi brega, já foi gordo, bem gordo aliás, já foi puro sexo também...
Quem o olhasse naquele momento, perceberia apenas um jovem normal, acima do peso ideal, de aspecto agradável, grande, iluminado. Mas para João Antônio aquele rapaz chegava a ser naquele momento bem mais que isso.
Ele já nem se lembrava o porque havia entrado naquela biblioteca e se alguém o questionasse naquele momento, distraído como estava, responderia que só estava lá para ver o moço no canto da sala de leitura, talvez só tivesse prestado o vestibular e entrado na universidade para ver o moço do canto da sala de leitura.
O moço a quem ele havia carinhosamente apelidado de "Sol" devido a sua incrível força magnética,  sua pele  levemente bronzeada e seu sorriso de canto de boca, que aparecia vez ou outra, conforme seus olhos negros percorriam as páginas do livro que lia com tanta gula.
Mas apenas vê-lo, ali parado, sozinho, era  pouco.
João Antônio queria devorá-lo, mergulhar dentro dele, conhece-lo, queria saber que seu nome era Roberto. Pensava que isso tudo, essa baboseira sentimental era coisa de filme de romance hétero  nunca em sua vida havia conhecido um casal gay que se encontrou por acaso num ônibus,  num metro, num cinema, muito menos em uma biblioteca.
Porém estava decidido, não sairia de la sem ter ao menos o nome do moço, e duas informações relevantes sobre ele. Levantou-se apoiando as mãos na mesa para encorajar-se, segurou um livro qualquer na mão e foi andando em direção ao canto da biblioteca.
O moço nem sequer percebeu a aproximação de João Antônio, e este já conseguiu chegar perto o suficiente para ler o título do livro que o rapaz lia escondido e desaparecido ali no canto: "Para ler como um Escritor".
O sorriso foi inevitável, o título do livro era estranho e não combinava em nada com o rapaz tatuado, o  tal moço deve ter ouvido os lábios de João Antônio se contraindo em um sorriso, pois o enxergou no mesmo instante, o instante do sorriso, mas não um sorriso debochado, um sorriso sem graça com gosto de alívio.
E o moço sorriu também... Não um sorriso sem sem graça, e sim um sorriso que aguardou anos para poder sair, e se espalhar pela biblioteca aquela noite.
A ainda naquela noite, o João Antônio ficou sabendo que o nome do moço era Roberto, e também soube duas informações relevantes sobre a vida dele, mas isso é outra história...


Informações relevantes:
1° Roberto sonha acordado.
2° Roberto escreve e ocasionalmente interage com seus personagens.


E para o João Antônio isso foi um final de um breve conto, 
e o começo de um romance best-seller de 500 páginas.


Fim.







6 de novembro de 2009

- Acércate un poco más... ♪




Um trago longo, longo demais para mim, a fumaça sobe, e avisto as musas atravessando-a, e vindo abraçar-me, usam patins, daqueles antigos de quatro rodas, e me dão beijos  nas bochechas, felizes com nosso reencontro, elas dizem: escreva...
Meus olhos caem no chão, confusos, escrever, e escrever, é o que faço, é o que tenho feito, e para quem? Meus textos nunca tem um porque, ou para quem. 
Uma delas, a mais gorducha e engraçada, me fala com sua voz forte :
Escreva sobre aquela xicara de café, que você derramou agora, e deixou teu quarto cheirando café, escreva sobre os homens e as mulheres, sobre seu coração, uma casa limpa e impecável,
porem vazia e sem placa de "vende-se", escreva sobre tua irmã de verdade, e sobre as almas
que são um pouco irmãs da sua, escreva sobre o moço que te amou de verdade, e como foi bom
descançar um pouco da realidade sob as asas dele. 
Ja outra, magra, alta e elegante me diz: Bobagem, escreva sobre o passado, sobre o que sentiu, talvez alguem em algum canto o sinta agora, e vai ser reconfortante para esta alma ver que você o sentiu também, e escapou, escreva frases de teus escritores, pintores e artistas favoritos... Escreva qualquer coisa.
A líder delas, um pouco mais madura me diz:
Escreva sobre aquela noite, em que se agarrou ao meu seio e chorou, implorou palavras, e eu
as lhe dei, uma a uma, mas não quis passa-las a diante, elas estão guardadas numa gaveta de teu coração de colmeia, cheio de espaços preenchidos e vazios, aquelas palavras que achou que ele não merecia ouvir, escreva sobre as vezes em que foi criticado, e em que passou a mão sobre a sua própria cabeça, escreva sobre o copo de cerveja que virou em cima do seu rival, e como isso o fez se sentir bem, escreva sobre as conversas sobreas, e sobre as conversas encharcadas de alcool, e lágrimas...
E outra me diz:
Escreve sobre os x-men, e como eles o acompanharam na tua infancia, teu primeiro amor, escreva sobre os meninos que o atravessaram como se você fosse feito de água, e como se sentiu confortavel ao escutar a música "Preciou illusions" da Alanis Morissette, e como jura até hoje, que esta música foi escrita para você... Escreva sobre o homem perfeito de óculos que o acompanha em seus sonhos, e como você quando olha a Lua, deseja que ele o esteja olhando de volta, de algum lugar deste mundo em que vive, e como se sente um extraterreste 22 das 24 horas de teu dia, talvez outro extraterrestre, leia isso e venha ao teu encontro...
Eu ri e elas também, meu sorriso é cançado, e cheio de preocupações, de coisas que tenho que fazer, de contas a pagar, de provas a passar, de um coração a proteger do amor tolo, meu sorriso é cheio de um corpo que quero urgentemente modificar, de kilos que quero perder, e de dietas que luto para começar, e continuar.
Paramos, dou a elas um gole da minha cerveja, e um trago do meu cigarro, coloco uma música no meu aparelho de som, e a escutamos, nós dez, em silêncio absoluto...
Meus olhos ainda rasos d'água, pelo livro que terminei, e pela história que que me cativou do começo ao fim, e de como queria ter escrito esta história, inveja literária, deve existir. 
Uma delas, cita um verso de Florbela:

"Ter dentro d'alma a luz de todo o mundo, 
e não ver nada neste mar sem fundo, 
poetas meus irmãos, que triste sorte!"

Será mesmo tão triste assim Florbela, acho que escreverei sobre a tal xícara de café que acabei de derrubar, e a derrubei porque via na fumaça do café, meus sonhos antigos se formarem, e se desfazerem, via ele, e via a mim, e me odiava por ver sempre as mesmas coisas, meus olhos enjoaram de rever a mesma cena, mas sou um pouco fanático, por sentimentos, por dores, cutuco-me, provoco-me, quero sentir algo, seja lá o que for, hora amor, hora saudade, hora ódio, de mim mesmo claro.
Tudo gira em torno de mim como sempre, sou leonino, representado pelo sol, redondo e brilhante.
Elas riem, estão satisfeitas, olham-me com ternura e dizem:
Viu só, acabou escrevendo, tolo, se é fácil persuádi-lo a escrever, deve ser mais ainda, faze-lo amar ardentemente alguem, cuidado com teu coração. 
Penso que elas estão certas, sorrio perante minha ingenuidade, acabei escrevendo mesmo. Safadas.
Elas vão-se indo embora, pela fumaça, pelo ultimo trago, e eu penso, será que este foi um bom fim para o meu texto?
A mais gorducha, e engraçada, virou-se pra tras, antes de desaparecer por ultimo, deve ter escutado minha pergunta interna.
Ela me sorri, e diz:
- Beto, não duvide do final, seja deste texto, seja do teu, pois quando este chegar, ele não irá se preocupar, se você acertou ou não.
Ela some, mas antes, escuto sua ultima frase:
- Faça o que sabe fazer, e só.
Bem eu penso, sei escrever.
Então escrevo. 


P.s. O Gudang de canela também é bom, mas prefiro o de cravo.


Beijos Sinceros.


4 de novembro de 2009

- Mi soledad siempre he pertenecido a ti... ♪





A vida vai se cercando, em círculos cada vez mais fechados, enquanto o corpo escapa da forma, o coração se aperta na garganta, e tudo dentro de você pede por um pouco mais de espaço.
Cigarros são acesos, devorados, e descartados.  Assim como eu ja o fui uma vez.
Vinhos são abertos, taças preenchidas, apreciadas, acolhidas dentro de mim.
Vou encharcado aos poucos meu coração, esperando que ele se acalme, que se entorpeça e para de buscar inutilmente, uma ultima corda, um ultimo fio, que o liga eternamente ao sentimento que ele foi feito pra sentir.
Mesmo que o ser humano que tenha ligado a chave do meu trabalhador coração, nem sequer saiba qual a verdadeira cor do meu sangue, disse-lhe que era azul como o mar,  penso que ele  acreditou.
Os deuses parecem se entreter assistindo minha vida se desenrolar, vejo seus olhos brilhantes, verdes mesclados de azuis me olhando lá de cima de relance, antes de se esconderem em um nuvem, ou outra, vejo sua íris na lua cheia, vejo-os tranformados em gatos, em pássaros, em sementes voadoras de dente-de-leão, em amigos, em pessoas entranhas, em homens lindos e cheirosos, vejo-os em toda a parte, me dando dicas, me advertindo, me incitando em direções, eles estão presentes sem dúvida, ouvem meus pedidos, e os atendem.
Mandam-me presentes, lembranças e vez ou outra, castigos, mas eu os aceito, afinal, os mereci. Os deuses são imparciais, justos. Por isso os adoro.
O vinho e o gudang descem queimando minha garganta no calor, mas eu amo o calor, é a única temperatura em que se é feliz sozinho, passar calor sozinho pode ser alegre se o céu estiver azul, ou estrelado, já passar frio sozinho, é uma dor aguda, doída dentro de si mesmo, a solidão é fria, fujo dela, abraço o calor, encosto o cálice gelado na testa para me resfriar um pouco, sonho com lábios que sei, jamais me tocarão novamente, mas minha mente imaginativa, transforma as goticulas do calice, na saliva destes lábios, e no calor, sentindo o vento artificial do ventilador, o gelo do vinho, o beijo do cálice, e o cheiro rescente do pós barba, os cravos do gudang, eu me sento e escrevo, sobre o que sinto, e sobre como o sinto. 
Afinal a vida é curta, mas não é pouca. Olho minha amiga Florbela e com seu sorriso dolorido de sempre ela me diz:

" E se um dia serás cinzas, pó e nada, faça da tua noite uma alvorada, saiba se perder, para então se encontrar Beto!"  

Eu sorrio sem graça, afinal ela é uma das deusas que me observa sempre, tão poderosa em suas palavras que muitas vezes me assusta, muitas vezes ja imaginei que essas palavras saiam de minha própria boca. 
Mas de minha boca, saem apenas coisas a meu respeito, afinal sou o assunto que conheço melhor.
Esta boca agora está com sede, e meu copo está vazio, esperando que mãos gentis, o encham de cubos de gelo refrescantes. 
Lá fora da janela, a minha vida continua mudando, tomando rumos que desconheço,  infelizmente chegou a hora de crescer, de parar de sonhar tanto, de viver acima de tudo, pois a realidade é muito mais interessante e difícil do que a ficção.
Tenho pra mim que as coisas mudaram, mas acho que fui eu quem mudou tudo, incluindo a mim mesmo.
Fazer o "agora" daqui pra frente, começar a trilhar meu caminho, com os dois pés no chão.



P.s. Meu vinho acabou.
P.p.s. A música no aparelho acabou.
P.p.p.s. O gosto, a emoção, o calor, o vento, 
e os sonhos permaneceram.


Um agradecimento especial, aos amigos, 
e as almas maravilhosas que conheço.
Presentes refrescante dos deuses, para este que vos escreve...




Beijos Sinceros.


21 de outubro de 2009

O moço que demora pra dormir...


Pensamento 1# - Cicatrizes


Certa vez quando era pequeno, brinquei de siga o mestre com uma amiguinha chamada Natália.
ela sempre foi uma grande amiga, e coloriu muito minha infancia, mesmo quando tudo ao meu redor era cinza, e veja que coisa, Natália sabia pular muros e eu não.
Então no siga o mestre eu me esborrachei no chão, e de quebra, enfinquei um prego enferrujado na minha perna, que perfurou até meu osso.
Na época doeu muito, a dor de ter me esborrachado, me perfurado, me estatelado, e de ir subir pro apartamento fazer o curativo na ferida, arrancar o prego, passado merthiolate, ter que colocar band-aid, ver a casquinha se formar, depois cutucar a casquinha... 
Mas hoje, essa aventura ficou apenas na memória, afinal, eu e Natália crescemos, e a ferida cicatrizou, hoje não passa de uma pelesinha de cor diferente, que fica esticada naturalmente embaixo de alguns pelos na minha perna, e se vc passar a mão vai sentir a ondulação no osso, onde o prego entrou, mas eu não sentirei nada, nem dói mais.
É apenas uma extensão do meu corpo como outra qualquer.
E assim como a minha perna, senti que o mesmo aconteceu com o meu coração.
Pode passar a mão a vontade, a pele ao redor dele está um pouco esticada ainda, mas dor mesmo, eu não sinto mais nada.  :D


Pensamentos 2# - O conto de Fadas


Era uma vez o meu primeiro amor, que acabou morrendo afogado.
Eu tinha uma sede, uma ansia quase psicopática em ser perfeito, em beirar o inimaginavel no que diz respeito a tudo, acabei me tornando sem graça, é que encontrar um homem perfeito, e dormir com ele é fácil, todos querem isso, mas e acordar com um homem perfeito? 
Hein? E viver feliz para sempre com um homem perfeito? Quem quer se sentir inferior? Quem quer se sentir errado? Quem quer se sentir imperfeito?Ninguem.
Então imagine como se relacionar com alguem que se esforça ao máximo pra ser perfeito foi dificil para o meu ex.
Eu me mostrava mais inteligente que ele, mais bonito que ele, mais bom de cama do que ele, mais criativo do que ele, com amigos melhores que o dele, com pais que me amavam muito mais do que os pais complicados dele amavam ele, com uma familia mais fofa do que a familia estranha dele, com um futuro bem mais promissor do que o dele, que trabalhava a dezesseis anos na mesma fábrica que pertencia ao seu pai, e provavelmente iria continuar trabalhando por toda a vida. E que ainda por cima, amava ele muito mais do que ele se amava. 
CARALHO, ele não aguentou tanta pressão...
Eu havia pedido um cavaleiro andante sob uma maldição terrivel que só eu pudesse tirar, e o destino me deu o tal cavaleiro, só que esqueci de dizer que eu não era um príncipe coisa nenhuma, era um bruxo disfarçado e acabei amaldiçoando mais ainda o coitado.
Tanto que depois de mim, ele nunca mais quis namorar. E eu até entendo o porque. Namorar um homem perfeito é traumatizante, nos faz ver o que realmente somos, e o quão longe da perfeição estamos, o quanto ainda temos que melhorar. 
E o pior, foi que quando ele terminou comigo, eu não entendi nada, afinal eu era PERFEITO, foram necessários vários meses, e muitas bebidas, e porres, e experiencias paranormais, e poltergeists pra mim entender o que havia dado errado na nossa relação.
Eu mantive o verdadeiro Roberto, trancado dentro de um baú, e mostrei pra ele apenas a versão 2.0 do Roberto, perfeito, sem erros, sem nada. 
Um homem completo, independente e apaixonado.
Não deixei ele poder implicar com um defeito meu, não deixei ele notar algo em mim que ele detestasse, e nem olhei pro cara no canto do bar pra ele ficar com ciumes, anunciava todos os dias ele como campeão de audiencia, e como posso culpá-lo hoje por ter ficado louco e fugido de mim. 
Eu mesmo fugiria de mim, se me encontrasse na rua. Credo, que medo de mim.
Complicado essa história de ser perfeito, hoje em dia, eu gosto muito mais do simples e do normal, isso me atrai mais do que qualquer outra coisa, se usar óculos, for alto e tiver uma voz gostosa melhor ainda ;D
e é assim que meu conto terminou, sem o "felizes para sempre".
Mas com um Roberto menos perfeito, e muito mais interessante, a espera do próximo, será o principe encantado, o campones, ou o caçador?





Pois é, 2:08 p.m. e eu aqui, sentado em frente ao computador, 
com um copo d'água bem gelado, uma barra de chocolate amargo, 
óculos, cuecas, e plástico (as tatuagens estão cicatrizando)
acho que é hora de criar coragem e dormir, 
deixei registrado aqui dois pensamentos
que tive hoje antes de me deitar, 
não que sejam importantes.
mas são.


beijos sinceros.



13 de outubro de 2009

A Cama Cobertina



"Uma cama solteira, 
que vive desarrumada, 
toda desfeita, 
sem coberta e escancarada.
A cama é muito solteira e gorducha, 
não é boa de mola, 
e suas pernas eram do tipo rebola-bola.
...
Certa vez, em um passeio, 
encontrou com um leito principesco, 
todo arrumado, limpo, 
com lençol de cetim bordado, 
e até um dossel,
que de tão azul,
foi comparado ao céu.
Após a união, até fotografada 
para coluna social foi.
E os dois se transformaram
em uma cama de casal.
...
Mas Cobertina é uma cama bem doidona
e bem gozada.
Não aguentou viver grudada, 
estuada, tão casal.
Deu um ronco forte, forte.
No marido deu rasteira, e disse:
- Foi tudo um lindo sonho,
eu nasci pra ser solteira!"


A Cama Cobertina, Sylvia Orthof

24 de setembro de 2009

...





"amar tambem é bom:porque o amor é difícil.o amor de duas criaturas humanas talvez, seja a tarefa mais difícil que já nos foi imposta.a maior e a ultima grande prova.a obra para qual, todas as outras sejam apenas uma preparação.Por isso, pessoas jovens,que ainda são estreantes em tudo, não sabem amar:têm de aprendê-lo, com todo o seu ser.com todas as suas forças concentradas,em seu coração solitário, medroso e palpitante.devem aprender à amar...creio eu que aquele amor persiste ainda tão forte e poderoso em sua memória,justamente por ter sido a sua primeira solidão profunda.e o primeiro trabalho interior, com o qual,moldou sua vida..."

_Rainer Maria Rilke14 de maio de 1904


2 de setembro de 2009

Um Namorado para Fortuna...




- Miguel ? 

- Hã?

- Por quê você desvia tanto o olhar?

Um sorriso torto, mostrando seus aparelhos inferiores apareceu subtamente. 
Fortuna percebeu que ele não havia compreendido a grandiozidade que estava oculta naquela simples pergunta, principalmente, o enorme valor que uma mulher de imaginção extremamente ativa e fértil como ela, daria a resposta dele. Pelas palavras que sairiam a seguir da boca dele, ela poderia desvelar que tipo de homem ele era, e principalmente, que tipo de homem ele seria com ela.

- E você hein? Por quê desvia o olhar?

Isso.
Foi apenas isso que ele respondeu, nada mais.
Ele estava sorrindo ainda, como se ela apenas o tivesse questionado sobre esta ou aquela marca de cerveja. Idiota, retardado, pensava. Mas na realidade, Fortuna não sabia o que responder, nunca tinha lhe passado pela cabeça até então, a hipótese de que ela também, as vezes, desviava o olhar.
E porque diabos ela estava fazendo isso? Pelo visto estava desviando o olhar fazia tempo, e com muita frequencia, para que um homem desligado como Miguel, percebesse. Ou talvez ele apenas estivesse brincando, chumbo trocado não dói, mas parando um momento para pensar, se ela realmente estivesse desviando seu olhar do dele, era apenas porque tinha medo de altura.
Tinha medo de cair de uma só vez para dentro dele como já havia feito tantas vezes antes, com outros. Ela percebeu que o fato de Miguel ser professor de cartografia, fazia com que ela encontrasse em seus olhos castanhos, certos dezenhos que lembravam a ela montanhas, cordilheiras vistas do alto, talvez ela estivesse desviando seu olhar para amarrá-lo em alguma pedra sólida no chão, e então assim talvez, escapar de um possível amor, se salvar. 
Mas agora, nesse momento, deitada no capô do carro antigo dele, sentindo o perfume masculino, e um leve cheiro de loção pós barba no ar, ela contemplou toda a simplicidade e força de um momento mágico como aquele, pela primeira vez, ela estava tranquila, calma, não estava esperando nada, apenas o estava aceitando, aos poucos, aceitando o homem que ele era, com um senso de humor tranquilo e até doce algumas vezes, e todo o corpo dele era de certa forma doce, e gostoso de ser acariciado, tocado, sentido e até degustado. 
principalmente seu olhar, não poderia ser mais enigmatico e sincero. um olhar cru, em carne viva.


Ela havia deixado de ser a menina branquela de nome incomum, para se tornar uma mulher, madura, centrada, e principalmente: Incerta.
Havia recebido um homem. Não um garoto, mas um homem, inseguro, inexperiente em alguns pontos, porem ele era a mistura de tudo aquilo que ela havia visto em propagandas da televisão,
ele bebia cerveja, jogava futebol com os amigos aos finais de semana, tinha um emprego de segunda a sexta, fazia faculdade, tinha carro, usava bermuda e havaianas, ou calças jeans e tenis, a barba as vezes por fazer, e as vezes bem feita como naquela noite, o chiclete de menta, os pelos no antebraço, nas cochas, e alguns no peito, ele era um homem. Adulto.
Então naquele momento, lhe faltaram pedras para se segurar. 
Olhou atentamente ao seu redor, e viu uma simples e alaranjada margarida, ele havia arrancado a florsinha do canteiro da mãe dela, quando parou o carro em frente a sua casa e disse, com um sutaque caipira que ele desarticuladamente desfarçava"Tó aqui prô Cê!"
Ela escutava sua voz, e sentia como era grossa, rouca e masculina, sem dúvida ele recebeu uma alta dose de testosterona na puberdade, o que contrastava com seus traços de menino, seu jeito de vestir, e de se portar à mesa.
Tentou parar de devaniar, como sempre fazia, se pegando aos detalhes.
Precisava se focar no que de fato estava acontecendo naquele momento, sobre o capô daquele carro.
se agarrou à margarida, e tentou não pensar nas paisagens que estavam dentro daqueles olhos castanhos curiosos, que não paravam por um minuto sequer de fitá-la:

- Ah, bem, porque sou meio tímida.

Ele riu alto, afinal Fortuna era a rainha das respostas feitas e complicadas. 
Pela primeira vez, uma frase curta, simples e direta havia saído de sua boca, 
e isso deixou até mesmo ela preplexa, mesmo que esta frase seja apenas um disfarce para toda a confusão que acontecia dentro dela.

- Meu bebê! disse ele, colocando seu braço por debaixo da cabeça dela, e trazendo ela para mais perto.

Ela pousou a cabeça em seu peito.
Tarde demais. Estava Apaixonada.













p.s. Este é apenas um trecho de um romance que estou 
escrevendo de uma forma bem lenta e amadora.
p.p.s. inspirado em lições de vida e em todas as Fortunas que conheço por aí.
p.p.p.s. se um dia ele passar pela minha crítica pessoal, tentarei publicá-lo.

beijos sinceros.