20 de fevereiro de 2011

O presente da estrela cadente...

Ingrid Betancourt, Ilha da Liberdade, Nova York, Janeiro de 2011


"Claro que, sem a liberdade, a consciência de nós mesmos se degradava ao ponto de não sabermos mais quem éramos. Mas ali, deitada, admirando a exibição grandiosa das constelações, eu experimentava uma lucidez que vem com a liberdade duramente conquistada.
A imagem que o cativeiro dava de mim mesma tinha trazido à luz todos os meus fracassos. As inseguranças que eu não tinha resolvido durante meus anos de adolescência e as que tinham surgido de minhas incapacidades de adulta tinham ressurgido como hidras, das quais eu não podia mais fugir.
Eu as tinha combatido no começo, mais por ociosidade que por disciplina, obrigada a viver num tempo sempre recomeçado, onde a irritação de me redescobrir em minhas pequenezas imutáveis me levava a tentar de novo uma transformação impossível.
Naquela noite, sob um céu estrelado que me levava para anos distantes de uma felicidade perdida, para um tempo em que eu contava as estrelas cadentes, acreditando que elas me anunciavam a plêiade de graças que preencheriam minha vida, compreendi que uma delas acabava de cair naquele instante e que ela permitira o meu reencontro com o melhor de mim mesma que jazia esquecido."





Trecho retirado da página 427, do capítulo 63, intitulado "A escolha".
Não há silêncio que não termine. - Meus anos de cativeiro na selva colombiana.
Ingrid Betancourt, Editora Companhia das Letras, 2010.



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