16 de setembro de 2010

Pintando o céu com estrelas...




"Eu sei, você já parou de contar as estrelas do céu
E eu não, eu não posso mais te ajudar a dizer onde estão
Seu olhar pesado me prende ao solo
E eu sei, eu não posso mais flutuar
entre estrelas do céu que você apagou.
...
Falta um pouco de luz nos seus olhos
e me dá saudade o seu rosto brilhando ao sol
Falta um pouco de amor no seu corpo
e eu não posso te dar pois em mim faltará também
...
Talvez, se a gente encontrasse um lugar pra recarregar nosso amor
então, quem sabe eu pudesse enxergar vida no que nos restou
e essa estrela morta brilharia um sol
Meu bem, o pouco que eu posso te dar
É tudo o que eu já te dei e que não te bastou"

Estrelas - Ludov (*




"Amanhã preciso acordar cedo, e tentar voltar a fazer alguns exercícios antes do trabalho". Pensou.
Estava confortavelmente deitado em sua cama, os travesseiros afofados, os livros estritamente alinhados no criado mudo, tinha tomado banho, 2 cálices de vinho tinto, colocou sua cueca de cetim, passou seu perfume, esfregou o rosto e escovou os dentes.
E então, agora deitado, olhava o teto, sua visão aos poucos se adaptava a escuridão ambiente. 
O teto, recentemente pintado de branco. Noite e tinta, ambas frescas.
E antes da noite e da tinta?
Estrelas, é que havia ali antes. 
O teto era repleto delas, essas baratas e vagabundas que brilham no escuro sabe. 
Quer dizer, hoje elas eram baratas e vagabundas para ele, mas um dia não foram. Não quando ele (o outro), as comprou, e estratégicamente as colocou no lugar certo, simulando cada constelação que havia no firmamento.
"Estou tendo astronomia na facul esse semestre, e tive essa ideia meio maluca de fazer um observatório particular pra gente aqui, mas o cartão estourou e não sobrou verba nenhuma pra um telescópio, essas coisas são caras sabia? Então eu fui no R$1,99 hoje comprar umas tralhas e vi essas estrelinhas, tive a ideia e voilá! Elas brilham ainda por cima, olha..."
Na época ele até sorriu, achou a coisa mais romântica do mundo. O outro encheu o quarto de estrelas, que fofo pensou.
A noite, como agora, eles costumavam se deitar, e quando não se amavam, ficavam olhando para o teto,  estáticos, as vezes o outro fingia que o último cigarro da noite era um cometa, levantando o braço e passando 
a bituca pelo "céu" do quarto, e ele falava qualquer coisa naquela hora, o amigo que brigou com o chefe, a mãe que pediu dinheiro emprestado, o preconceito, sobre um dia casar em Praga, capital da astronomia.
"Lá eles tem um relógio lindo, a gente tem que casar lá! Está decidido!"




Ele já não pensava nisso há muito tempo, a verdade encobriu suas fantasias... 
A verdade é que o outro se foi. 
Um dia decidiu não estar mais preparado para aquilo, para o quarto, para as estrelas, para Praga.
Uma simples ligação, serviu de ponto e virgula para os anos juntos.
Digo ponto e virgula, pois ele deixou para trás as estrelas.
Elas o assombraram por muito tempo.
Estavam todas lá, a constelação de gêmeos, a constelação de leão, uma do lado da outra, correspondendo aos respectivos lados da cama de cada um.
As vezes ele próprio usava o último cigarro de cometa, mas este não vinha mais da constelação de gêmeos como antes, vinha do nada, e ia em direção a um buraco negro.
Uma noite retirou todas elas. 
Pintou o quarto de branco, queimou o antigo colchão, aprendeu a preparar o próprio café.
Mas mesmo quando não se vê uma coisa, será que realmente ela não está lá?
Naquela noite, sozinho, deitado, podia ver claramente cada uma das estrelas, das histórias que as acompanhavam, dos sonhos que elas embalavam, do amor que elas foram testemunhas, e de onde elas nasceram.
O outro, pintou o teto com o céu, pintou o céu com estrelas, mas antes, havia pintado estrelas dentro dele próprio. E essas, ele não descolou ainda, nem passou uma mão de tinta por cima.
Elas estão lá, na escuridão daquela noite, na escuridão do seu ser, brilhando. 
É triste isso, o orgulho pode vencer mil batalhas sem vacilar em nenhuma delas.
Mas ao se sentir estrelado por dentro, sozinho, naquela noite.
ele chorou...





"Eu sei que você vê tudo o que eu faço.
Eu sei que você lê tudo o que escrevo. 
Escrevo pra você..."

Estrelas - Ludov (*









2 comentários:

  1. Beto, Você precisa imortalizar isso! Suas poesias são lindas.Essa particularmente (Estrelas) Me levou a um amor impossível do passado e me fez chorar! Você é muito talentoso! Parabéns, encantada e emocionada.

    ResponderExcluir
  2. nem sei bem. pq bateu mesmo aquela vontade de chorar, sabe?
    tcs.

    ResponderExcluir