25 de novembro de 2012

A última vela.





“Somente um amor incompleto pode ser romântico...”
Woody Allen


Contaram-me uma vez, que em certo lugar do mundo numa época talvez distante, talvez ontem, não me recordo, vivia sozinho um infante dentro de um castelo.
O castelo em questão não tinha portas nem janelas, o rapaz era tudo que nele remanescia, era a sobra de uma longa linhagem real que fora interrompida em si mesmo. 
Não sei do que se trata essa história, se foi algum tipo de malefício que o deixou naquela condição, ou se foi apenas culpa, mas ele estava emparedado naquele casarão a muitos anos... Bem, sei que era filho único e ao descobrir-se apaixonado por um outro jovem, decidiu não consumar seu casamento com a princesa sua noiva, esta era de outro reino, de sua mesma e indefinida época, e o real compromisso havia sido firmado antes mesmo dele nascer pelos monarcas seus pais. 
Foram dias negros para o reino e sua corte, esta desfez-se quase que imediatamente, logo não havia general, não haviam pajens, cavaleiros ou mesmo súditos naquela região.  O tal rapagão que roubara a afeição do príncipe foi enforcado, antes mesmo que pudesse esclarecer que não nutria o mesmo sentimento, sequer havia trocado duas palavras com vossa alteza e já era enamorado de uma donzela que vivia na floresta. Nem mesmo o príncipe o pode salvar, explicando que como em quase todos os casos de amor, havia se apaixonado sozinho e que o pobre condenado em nada havia contribuído com isso, exceto pelo fato de ter nascido. Acontecera. 
E então aquelas terras foram amaldiçoadas, ao menos é o que diziam os mascastes e viajantes, todos persignavam-se caso precisassem cruzar um único passo para dentro de sua fronteira maligna. Logo, só restara o rei, a rainha, o príncipe e a maldição ou culpa que aos poucos se apossava do lugar, preenchendo os cômodos vazios do palácio...
O rei e a rainha tentaram desesperadamente ter outro filho, até mesmo uma filha com um coração mais sensato seria bem vinda naquele momento para abrandar o mal olhado que o primogênito lançara na família inteira. 
Em uma de suas tortuosas tentativas, a rainha que já não era mais tão jovem, obteve sucesso, porém toda a luz da esperança extinguisse rapidamente, quando o filho ainda não nascido e a rainha pereceram na ultima noite do inverno mais rigoroso que eles viveram juntos, ainda como família.
E depois disso o rei desapareceu... Óbvio demais, eu sei, mas o que mais me intriga nessa história é que as portas, janelas, mobília, tudo decidiu acompanhá-lo. As paredes rapidamente fecharam as máculas deixadas pelas fendas das janelas e batentes que agora estavam ausentes, preenchendo-se de mais paredes, apenas o necessário para manter o teto sob suas cabeças. O castelo tornou-se praticamente maciço por fora e vazio por dentro, havia paredes, paredes, teto, príncipe e apenas uma vela. 
A vela foi tudo o que ficou, talvez em sua mente de vela, tenha decidido ficar pelo mesmo motivo que as portas e janelas decidiram partir, talvez não tivesse tido tempo de sair junto com as outras velas antes que as paredes tivessem se fechado para manter o castelo estruturado e em pé, de qualquer forma, em sua simplicidade de objeto despretensioso, já que ali ficara, decidiu então iluminar. Iluminar o vazio escuro do castelo, e sendo ela a única vela, decidiu sozinha jamais se extinguir. 
Assim ela iluminou o príncipe por muitos anos, tantos quantos se podem contar dentro de quatro paredes, ou talvez apenas por alguns breves minutos, não se sabe ao certo, o passar do tempo, o arrastar das horas ainda é um mistério dentro de uma casa sem janelas onde vive um único morador sem futuro...



(Continua)





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