9 de março de 2010

- Contemplação...




"A pureza é a capacidade de contemplar a mácula."
Simone Weil



- O sexo-oral cura a depressão!

Sem hesitar, esta seria a resposta que eu daria a qualquer um que viesse me pedir conselhos (sinceros) sobre o amor e seus derivados, bem, isso é, até um certo tempo atrás.
Provavelmente porque eu saiba mais sobre sexo oral, (tanto na teoria quanto na prática) do que eu sei sobre amor, este desconhecido...
Mas as rodas que movem meu ser giraram bruscamente, e agora a minha vida inteira se encontra cercada por esta palavra: Desconhecido.
Desconhecido, medo, mudança, excitação, esperança.
Palavras tão paralelas quanto intrinsecas na minha atual realidade.
Talvez eu seja apenas o tipo de homem que cansou de esperar pela primavera prometida, e decidiu se apaixonar num rigoroso inverno. Não com menos intensidade.
"Paixão requer paixão, fervor e entrega, que com fervor e entrega se recompensa." Ja diria Bocage.
Mas vasculhando exatamente agora (03:29 a.m.) os meus arquivos amorosos, vejo que apesar de ter meus 23 anos de idade, eu não possuo um curriculum amoroso muito invejável.
Sinto como se tivesse trabalhado anos, e a minha carteira jamais tivesse sido assinada.
(Boa analogia!)
É como se mesmo tendo perdido a virgindade aos 17 anos, (Nossa só faz seis anos que estou no mercado?), meu coração, ou pelo menos um pedaço dele, livre de artérias entupidas devido aos cigarros, bebidas, sedentarismo e doses diárias de gordura, permanecesse virgem. Intocável eu diria.
Com certeza, se nesta noite você colocasse o meu coração no seu ouvido, você ouviria o oceano.
Pode parecer até um pouco estranho eu me encontrar na maior cidade da américa latina, e ainda assim, me sentir sozinho.
Mas nada agora consegue parecer mais solitário, que um moço de vinte e poucos anos, sentado no meio da madrugada, sozinho, nas escadas de incendio de seu prédio, com um copo d'água, um caderno, uma caneta azul e um maço de cigarros.
Agora minha família, meus amigos, minha antiga rotina, meu antigo emprego, minha antiga faculdade, estão bem guardados em um local secreto, que apenas eu conheço, e acesso através da memória e do coração quando preciso desse background pra conseguir (sobre)viver...
Eu morei em São Paulo até meus 14 anos, uma idade muito besta para se viver em São Paulo com pais protetores como os meus.
Eles zelavam por mim, e naquela época, eu ainda não era tão fã do mundo e da minha liberdade para lutar por ela.
Foi quando nos mudamos para o interior de São Paulo (Mais especificamente Jaú, localizada no centro-oeste paulista).
E foi lá que eu tive um contato maior com coisas como liberdade, responsabilidade, aceitação, amizade, e a mais incrível de todas, a intimidade.
E aos poucos o Roberto recluso foi saindo pela minha garganta, bebendo, fumando, beijando, transando, se drogando, amando e vivendo.
E quanto ao "amando", o que levo até hoje como bagagem?
Acho que o mais triste de ter amado, é ter aprendido com o amor.
O amor pra mim se tornou muito racional, muito racionalizado, analizado e compreendido.
O que faz com que ele perca um pouco a graça de ser buscado e vivido, ja que a graça do amor é que ele é etéreo.
É como um quadro de Pollock, que ao invés de contemplado, é analizado, quando não há analises a serem feitas, ele deve ser observado apenas, e de preferência em silêncio.
(Fui trocar o copo d'água que estava bebendo por um de Vodka, acho digno e elegante.)
Voltar para São Paulo, em teoria deveria ser mais fácil, do que deixá-la da primera vez, mas não funciona bem assim.
Sentia que São Paulo iria ser minha novamente, o lugar onde moraria, onde estudaria, trabalharia, onde viveria, transaria, amaria, e acima de tudo: um lugar que me acolheria.
Finalmente o filho pródigo retorna a sua cidade natal!

"Aham Cláudia... Senta ali..."
@XUXAVERDE

Desde que me mudei pra cá, só pude perceber uma única coisa:
- São Paulo N-Ã-O é nem um pouco como eu me lembrava!!!
Assim que pus meus pés aqui neste chão, ele se afundou ao meu redor como um enorme tanque de areia movediça.
As rotinas diárias, os onibus, o transito, a correria, a falta de tempo, as preocupações diárias, etc...
Era como se tivesse ligado meu piloto automático de ser humano, como se tivesse ficado invisível.
Poderia jurar que as pessoas ao meu redor não esbarravam em mim, me atravessavam, (Exceto é claro, os Hare-Krishina, que com o terceiro olho conseguiam me enxergar no meio da massa, e vir ao meu encontro pra tentar me vender seus livros! Arsgh!!!).
Ja visualizava a cena em que meu corpo seria encontrado depois de quinze dias, por um vizinho, e já estaria semi-devorado por um pastor-alemão.
Acho tão fútil e ridículo admitir isso, mas de fato é que eu queria ser Visto!
Não digo no sentido de reconhecido, cantado, admirado. Apenas Visto.
Comentei isso com meu avô que ja beira os 89 anos, e ele me sugeriu ir na praça da Sé pelado plantar bananeira enquanto grito: "Eu sou rico!"
( Mas acho que ainda não cheguei a tal ponto, acho... rs)
Esta sensação de ser apenas um rosto na multidão, um número no censo populacional é deveras apavorante pra mim.
Talvez a metáfora mais correta para o que eu sinto, é que não quero ser visto, quero ser lido!
Exatamente!!! Como não pensei nisso antes?
Quando leem meus textos, ou qualquer coisa que eu escrevo, eu sinto que existo, sinto que estou ligado e ativo.
Apenas gostaria de transferir esta sensação do virtual para o real. Seria lindo.
Mas São Paulo é uma cidade cheia de surpresas, e ainda me reservava algumas para o final de semana.
Talvez os deuses tenham ficado temerosos de me ver pelado plantando bananeira na Sé gritando mentiras sobre minha vida financeira como aconselhou meu avô, e me enviaram uma Luz.
E foi no coração da cidade, em plena paulista, numa tarde ensolarada que São Paulo se tornou mais aconchegante para mim, acho que de uma forma doce e sutil neste final de semana, eu fui forçado a parar de tentar racionalizar São Paulo, e apenas contemplá-la, em sua beleza, em sua história, em sua verdade.
E a cada segundo que passava desta viagem (interior) maravilhosa, eu agradecia a minha total ignorancia em relação a minha cidade natal, porque a cada quadra, a cada esquina um mundo completamente novo se abria diante dos meus olhos.
O café, a livraria, o barzinho de jazz, o sofá do frank sinatra, o bar onde a Ellis se apresentou pela primeira vez, a companhia agradável, se uniam na minha frente e formavam o quadro surreal mais lindo que havia visto.
Acho que o momento que mais me marcou foi a Livraria.
É inenarrável o que eu senti naquela hora.
Pilhas de livros, montanhas de livros, cascatas de livros, livros, livros e mais livros.
Compraria todos, trabalharia lá de graça, até moraria lá, tipo a Pícara Sonhadora rs.
Para onde quer que eu olhasse, livros me esperavam anciosos para serem folheados, abertos, admirados.
E por um momento eu me senti como um daqueles livros.
Um homem sozinho em uma cidade grande esperando ser lido.
Um livro sozinho em uma livraria imensa esperando para ser lido.
Mas se eu fosse um livro naquele lugar, que livro eu seria? Que espécie de livro seria, que capa teria? E o tema?
(Pela minha situação, diria que estaria na sessão de auto-ajuda, ou no meu caso, auto-ajude-me!)
Como homem o que eu tenho a oferecer? Como um livro o que eu tenho para se ler?
Seria um livro que fala sobre o amor mas não poderia jamais vivê-lo, ou um homem que vive o amor sem conseguir compreende-lo.
Um historiador da arte? Um moreno? Um tatuado? Um universitário duro? Um cara tímido?
Talvez eu escolheria Monet, para ser meu ilustrador.
Pinceladas embaçadas, cores frias e suaves, formas levemente distorcidas, mas extremamente agradável de se ver.


Agradabilissimo de se ver...


De fato, não tenho a menor idéia.
Ja está bem tarde por aqui, acho que vou contemplar São Paulo mais um pouquinho antes de dormir, e tomar um engov porque a vodka não está descendo redondo.
Um gaúcho lindo e muito mais paulistano que eu me disse que o relógio/temperatura da paulista pode ser visto de qualquer ponto da cidade, adoraria conseguir enxergá-lo daqui agora.
(O relógio???) rs





p.s. A frase inicial deste post não é totalmente verdadeira,
ja que quem recebe o sexo oral é que se sente bem,
o chupador continua depressivo. rs.

p.s.s. São Paulo está digamos, mais gostosa.



Contemplem meus queridos, contemplem em silêncio.
Beijos sinceros!




8 comentários:

  1. vc sabe né que eu ia perguntar, que a depressão se cura com quem comete o ato, ou com quem é privilegiado com ele? HSUASHAUSAHU
    mais pra variar, vc respondeu ante.
    Que saudades de vc, e das suas teorias de fantástico mundo de bob.
    beijo, e cuide-se por aí ok?

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  2. Quédizê... pagando de gatão no início do post. De mestre do sexo, mas tá aprendendo a ler e ser lido, néam?!
    Acho que tá na hora de alguém voltar pro interior e renovar as energias. Ou não.

    Saudades de te ler.
    Um beijos.

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  3. Nossa Beto (olha a intimidade!)
    Simplesmente ADOREI o seu texto e o seu blog. O encontrei sem querer e não tive tempo de lê-lo então deixei salvo para poder ler mais tarde. Achei demais. Parabéns! Você escreve muito bem!

    Tem horas que me sinto exatamente como você, um serzinho perdido em milhões de pessoas.
    Ás vezes, é difícil se reconhecer no meio da multidão e escrever faz com que eu vejo que EU continuo aqui dentro.

    Beijo pra vc e mais uma vez, parabéns!

    Visite o meu log também.
    http://asolidaoatequemecaibem.blogspot.com

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  4. Entrar no seu blogg é o mesmo que entrar no seu mundo, é sentir um pouquinho você por perto,me sinto confortavel aqui no seu cantinho;
    Não pude deixar de ler seu texto,sentir suas palavras contemplá-las,o jeito que você brinca com as palavras é quase magico,gosto desse seu jeito de ver sempre o lado positivo das coisas(são paulo é um terror diga-se de passagem,rs)mãs claro existe o lado positivo e é ele que vc comtempla;
    Um beijo do tamanho da capital paulista para ti e, em ti...
    Sempre sua Angeliquee Desirée.

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  5. -

    mais tarde chego aqui para ler na íntegra e comentar sério.
    juro que queria e precisava de algo seu. (:
    mas muito, mesmo! (:

    a cachaça me consome agora, já já eu volto.
    fico muito feliz pelo seu retorno aqi.

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  6. Meu irmão, é difícil encontrar um ponto de partida para o comentário, pois seu texto é muito rico, muito abrangente. Acho melhor simplesmente começar parabenizando-o pela produção textual nota dez. Raramente leio postagens tão longas, mas a sua me prendeu.
    Quanto aos amores, cara, é como disse Rousseau: "O único amor que existe é o amor de si". E Cazuza, inspirado (creio eu) nele, cantou: "O seu amor é uma mentira que a minha vaidade quer. O nosso amor a gente inventa pra se distrair. E quando acaba a gente pensa que ele nunca existiu".
    Se aos 23 anos você já escreve assim, vou querer convite para o lançamento do livro mais tarde. Abraço.

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  7. -

    meu amor, nos P.S's você só esqueceu de colocar em relação a primeira frase. só façam isso fora de casa! ;x

    muito realista esse seu texto.
    mas digo logo qe não curti a espera, longa e lenta. quero mais de você, com maior intensidade e mesma qualidade.
    pq eu sei que isso aqui é só um pouco de você, apenas um pouco. (:

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  8. Que blog simpático!
    Já foi devidamente favoritado.
    Bjs

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