12 de novembro de 2009

João Antônio, o Príncipe...







João Antônio é príncipe, é  belo do seu jeito, é sério, mas já foi sapo, foi feio, foi puro sexo...
Foi o sapo de outro João, do Renato, do Claudemir, do Diogo, do Nando, da Natália na adolescência. Foi muito feio na puberdade, teve inúmeros apelidos: Narigão, Napa, Choquito branco, Tablito;  e muitos outros, todos evidenciando suas espinhas, seu nariz grande, seu jeito desengonçado.
João Antônio já se apaixonou uma vez perdidamente por um rapaz mais novo e muito mais belo que ele, e assim como um vampiro o tal rapaz sugou seu pau e suas fantasias sobre um dia viver um grande amor, e sugou bem, até a ultima gota, até machucar o corpo e o coração de João Antônio com seus aparelhos dentais.
E então depois disso, João Antônio ficou diferente, ficou um pouquinho mais bonito, mais sozinho, quis tirar um pouco de proveito da vida e quis transar mais, quis sentir o seu corpo, quis se apaixonar de novo, e foi isso que fez.
Transou feito um louco, se apaixonou por todos que conheceu, por seus amigos, por metade da cidade, e por metade de si mesmo. Era descrito como um rapaz alto de aparência mediana, voz grave, e  era bom de cama. E sua vida se desenrolou assim por muito tempo.
Fora isso João Antônio também trabalhou, e trabalhou muito, dentro de sua enorme cidade só conseguia pensar nisso, trabalhar, trabalhar e trabalhar...
Depois de um certo tempo, quando cansou das maratonas de encontros as escuras com garotos virtuais, de sexo fácil, ele comprou seu primeiro carro, e decidiu que estudaria pra valer, que faria uma faculdade.
E foi o que fez. Informática.
Conseguiu entrar na faculdade de seus sonhos, aos 23 anos, quando um único fio de cabelo branco havia crescido sorrateiramente em sua nuca. Percebeu que durante as aulas não conseguia enxergar bem as letras na lousa ou mesmo no computador de seu trabalho, o oftalmologista apenas disse uma palavra: Miopia, e João Antônio teve que começar a usar óculos também. A idade havia chegado.
Estava finalmente bem, estável, estagiando, bem remunerado, ok, não tão bem remunerado assim mas se sentia útil e isso já é um bom começo. Tinha um bom emprego, tinha seu carro do ano que não vem ao caso, estava cursando sua tão sonhada faculdade e sempre tinha um trident de menta-verde-escuro em seu bolso para os momentos de crise.
A princípio ele não percebeu, mas não demorou muito e ele notou. Não ia mais com tanta frequência para baladas e há dois anos não entrava em nenhum dark-room. Já não enxergava os homens como costumava ver e isso não era mérito de sua recente miopia, fora que fazer sexo se tornou algo tão distante e deixado pra ultimo caso, como frequentar um bom cabeleleiro.
João Antônio via seus amigos regularmente, até ajudava em casa com um pouco do salário, o que restava. Toda a sexta tinha a cervejinha com seus amigos nerds da Faculdade, mas fazia meses que João Antonio não abria o ziper da calça com uma intenção menos cristã, há meses sua única companhia era sua fiel mão esquerda, sim, era canhoto.
João Antônio olhava para si mesmo diante do espelho e não se reconhecia, colocava a pasta na escova de dentes enquanto se perguntava "Cadê o João Antônio sapo? E o chokito? E o narigão? E o alto bom de cama?"
Sem que ele percebesse eles haviam se transformado. E agora, com a regata velha que usava pra dormir, sua imagem o olhava refletida no espelho, lá estavam apenas o João Antônio amigo, o maduro, o sério, o príncipe.
Um príncipe alto, bem vestido, com óculos de grau, uma pequena tatuagem discreta no braço, fruto de sua rebeldia passageira, agora com vários fios de cabelo branco, 25 anos, um jovem-moço, um jovem príncipe.
Porem solitário. Afinal, toda a graça dos contos-de-fada é encontrar ou transformar o tal do príncipe encantado. Um príncipe já feito sozinho, não chega a ser tão interessante quanto um sapo, ou mesmo uma fera.
Estava sentado na mesa da biblioteca da faculdade com nove exemplares de livros diferentes, pensando justamente a respeito de como havia mudado, em como havia crescido, porém sem ninguém ao seu lado pra ser testemunha ou mesmo notar mudança.
E foi aí que o outro entrou. Taciturno, silencioso, como um gato (gordo) doméstico.
Entrou,  sentou do outro lado da sala bem no canto, jogou sua pesada mochila no chão, abriu um livro, e desapareceu. Lia tão atenciosamente que parecia ser invisível lá dentro, um ser etéreo, um adorno da biblioteca.
Mas João Antônio o viu.
E o viu claramente, como se aquele moço discreto e silencioso fosse o Sol, uma estrela de fogo tentando inutilmente ocultar seu brilho. 
João Antônio voltava sua atenção para os livros e resumia algumas linhas, mas não podia deixar de observar em silencio o moço do canto, e o observou por muito tempo.
João Antônio escondido atrás de seu livro e o tal "Sol" escondido atrás do livro dele.
João Antônio o analisava completamente, e o pobre moço nunca julgaria em seus sonhos, que despertaria tamanho interesse em um desconhecido. Ele viu o seu tênis, sua calça jeans, sua camiseta branca, estilo polo, podia alguém ser mais discreto que isso? O rapaz era gay, sem dúvida, tinha uma aura sensível demais para ser um homem hétero.
João Antônio viu que o tal rapaz tinha tatuagens bem visíveis, uma bem no pescoço, com algo escrito, ilegível aquela distancia, aquele disfarce.
E quanto mais o olhava, mais interessante o moço no canto da sala ficava.
Não, aquele moço ainda não havia se transformado em um príncipe como João Antônio, mas também nunca havia sido um monstro ou uma aberração.
João Antônio ainda não sabia, mas vou dizer a vocês, o nome do rapaz é Roberto.
Roberto é o moço que escreve a crônica, que é dono do blog, que ainda não é príncipe, mas é mago, de aparência calma e simpática, cabelos e olhos bem escuros, contrastando com sua pele morena tentando ser branca.
Porém Roberto já foi brega, já foi gordo, bem gordo aliás, já foi puro sexo também...
Quem o olhasse naquele momento, perceberia apenas um jovem normal, acima do peso ideal, de aspecto agradável, grande, iluminado. Mas para João Antônio aquele rapaz chegava a ser naquele momento bem mais que isso.
Ele já nem se lembrava o porque havia entrado naquela biblioteca e se alguém o questionasse naquele momento, distraído como estava, responderia que só estava lá para ver o moço no canto da sala de leitura, talvez só tivesse prestado o vestibular e entrado na universidade para ver o moço do canto da sala de leitura.
O moço a quem ele havia carinhosamente apelidado de "Sol" devido a sua incrível força magnética,  sua pele  levemente bronzeada e seu sorriso de canto de boca, que aparecia vez ou outra, conforme seus olhos negros percorriam as páginas do livro que lia com tanta gula.
Mas apenas vê-lo, ali parado, sozinho, era  pouco.
João Antônio queria devorá-lo, mergulhar dentro dele, conhece-lo, queria saber que seu nome era Roberto. Pensava que isso tudo, essa baboseira sentimental era coisa de filme de romance hétero  nunca em sua vida havia conhecido um casal gay que se encontrou por acaso num ônibus,  num metro, num cinema, muito menos em uma biblioteca.
Porém estava decidido, não sairia de la sem ter ao menos o nome do moço, e duas informações relevantes sobre ele. Levantou-se apoiando as mãos na mesa para encorajar-se, segurou um livro qualquer na mão e foi andando em direção ao canto da biblioteca.
O moço nem sequer percebeu a aproximação de João Antônio, e este já conseguiu chegar perto o suficiente para ler o título do livro que o rapaz lia escondido e desaparecido ali no canto: "Para ler como um Escritor".
O sorriso foi inevitável, o título do livro era estranho e não combinava em nada com o rapaz tatuado, o  tal moço deve ter ouvido os lábios de João Antônio se contraindo em um sorriso, pois o enxergou no mesmo instante, o instante do sorriso, mas não um sorriso debochado, um sorriso sem graça com gosto de alívio.
E o moço sorriu também... Não um sorriso sem sem graça, e sim um sorriso que aguardou anos para poder sair, e se espalhar pela biblioteca aquela noite.
A ainda naquela noite, o João Antônio ficou sabendo que o nome do moço era Roberto, e também soube duas informações relevantes sobre a vida dele, mas isso é outra história...


Informações relevantes:
1° Roberto sonha acordado.
2° Roberto escreve e ocasionalmente interage com seus personagens.


E para o João Antônio isso foi um final de um breve conto, 
e o começo de um romance best-seller de 500 páginas.


Fim.







3 comentários:

  1. -

    menin, super fiquei ancioso pra saber onde era a entrada do beto nesse texto.
    tu soubesse como amarrar a atenção.

    ah, não está nem mais nem menos perfeito que o anterior.

    ;*

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  2. apenas uma palavra: MAGNIFICO
    *___*
    Adorei e torci a cada palavra para que o João Antônio realmente existisse..
    Um dia, né? '-'

    Beiiiiijos amor ♥

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  3. Oh, shit! Eu aqui todo feliz achando que você tinha encontrado esse sonho de consumo e você me joga um balde de água no final dessa leitura tão absorvente e interessante. Pois bem, eu seria muito inocente, ingênuo se achasse que esse João Antônio existe. Aliás, ele existe, mas só em contos de fada ou filmes com temas GLS. Eu sou um principiante nesse mundo de flertes, olhares, convites para o cinema, e paqueras metafísicas. Mas essa mínima experiência que tenho já me faz crer que o mundo que tanto ansiamos, que as pessoas que tanto idealizamos, talvez nunca virão. Vai ver nem existem. O nosso mundo é um mundo onde os músculos imperam, onde caras brancos, altos, fortes e ricos prevalecem sobre nerds (se forem pobres, pior ainda). Mas sonhar é prazeroso. Vez ou outra me pego criando um cavaleiro numa armadura reluzente. num cavalo imponente, armado de espada, escudo e um sorriso acolhedor, afável. Li um livro que marcou minha concepção, chamado "Cores Proibidas" (dum japonês que cometeu suicídio chamado Yukio Mishima). Nesse livro a realidade se confunde com os sonhos. Onde a beleza se demonstra cruel, mas necessária. Esse livro me fez chorar. Chorar por mim mesmo, e pelas pessoas que amo involuntariamente. Eu recomendo que leia-o.
    Beto, se Joãos Antônios existirem, eu desejo eles para todos nós. Não necessariamente o mesmo, porque cada um tem um João diferente na cabeça e no coração. Você acabou de descrever o seu. E eu acho que você sabe como são os malditos que me roubam o coração a cada esquina.
    Enfim, o post tá ótimo. Você não achou que devido ao fato de eu ter excluído meu blog eu deixaria de comentar, neh? rs

    Vou indo nessa,
    Beijão! ^^

    P.S. A gente podia criar a Sociedade dos Malditos Sonhadores, o que acha? rsrsrs

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