21 de agosto de 2008

Sonho de Panetone ♥


"Q'ria ser o bem daquele que é humilde e não tem sorte..."

Florbela Espanca



Cansado de esperar pela primavera que me prometeram, eu comecei a me apaixonar por invernos...
É inevitável para mim, ao recordar minha "breve" vida amorosa, me defrontar com uma eterna repetição de fatos: a troca.
Creio que o que mais me assombra ao recordar meus amores, seja a bendita troca.
Nenhum amor meu se afogou, acabou, desidratou, enjoou, não, foram todos brutalmente substituídos.
Do primeiro, que nem ao menos começou, até o último, que me fez até enxergar um futuro numa sala escura, todos foram trocados, quem trocou o quê ou quem nesta equação é indiferente. 
Por mais que me agrade a idéia de que o erro não foi meu, e discordando de todos os livros que insistem em dizer pra mim, que a troca se apresentou na minha vida porque um de nós era bom demais pro outro ou bonito demais, demais de demais, isso só faz com que eu ainda insista no contrário, que eu era errado demais, completamente inadequado.
Apareci na vida de meus amores no momento menos oportuno, da maneira errada e sob a medida mais desregular possível.
Sou uma receita estranha e complicada, destas que até mesmo a avó se perde pra acertar o ponto, com mais carne que o saudável, muito mais cérebro salpicado de pensamentos, bem mais do que o ministério da sanidade permitiria, romantismo, sensibilidade também vai, só que a medida de birra é sempre a mais, até um pouco salgado no ciúme e na cama, para logo em seguida ser muito doce e melado, um eterno agridoce, coloca tudo em uma forma untada, cobre com papel alumínio e exagero, deixe a batata assando, e terá um Roberto delicioso. 
Sou como um Panetone* que transbordou da fôrma e queimou dos lados e a Bauducco cruelmente colocou na Liquidação de Natal da Fábrica, vendido a mísero R$1 real.
Vendido para pessoas quantitativas, que compram 15, 20 Panetones de uma só vez, e que o devoram de qualquer jeito e jogam sua embalagem fora, sem nem ao menos ler o "Feliz Natal!" escrito por fora da caixinha.
Minha ultima esperança, é esperar que o melhor aconteça. Que no meio dessa multidão acotovelando-se para comprar 25 Panetones de uma vez, exista um cara normal, com apenas um real no seu bolso.
E ele está ali apenas porque é econômico, sóbrio, e ama comer Panetone. Então ele vai lá escolher o mais gostoso Panetone de todos, um que não seja muito queimado, bem redondo, fofo, grandão, que venha em uma embalagem azul, que é sua cor favorita.
E então, no final, se acabar sendo eu o Panetone escolhido, ele vai me levar pra casa, vai escolher seu prato de estimação para se servir de mim, vai ler atentamente a minha linda caixa azul, ver as informações nutricionais, ver que eu tenho calorias, muitas até, mas sou um doce gostoso que vale à pena se deixar engordar de mim. 
Vai ler na minha embalagem o "Feliz Natal!" e mesmo mentalmente vai me responder, não precisa ser em voz alta.
Vai cortar meu corpo com uma faca leve e macia, em pedaços perfeitos e suculentos.
E com a sua boca quente cheia de saliva, ansiosa por me devorar inteiro, vai fechar os olhos, e saborear uma a uma, as minhas frutas cristalizadas, para então lamber seus lábios quando tudo tiver terminado...


Droga! Até como "Panetone" me sinto muito exigente...





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