21 de janeiro de 2009

o frio de dentro.


brrrrrrrrr......
o clima esfriou um pouco aqui, 
e lá  fora já não é possivel ver nenhum raio de Lua,
as nuvens brancas, e cinzentas cobriram tudo.
mas se negam a desaguar de uma vez. 
mantém o clima pesado e gelado, com rajadas de um vento
frio, que impele as pessoas a ficarem em casa.
porque não chove logo caralho!?!?!
porque eu devo cobrar das nuvens,
uma atitude tão pouco comum em mim mesmo?
muitas noites atrás, as nuvens decidiram desaguar sua dor 
em um temporal, e eu decidi ficar nublado e sozinho.





Há muito tempo atrás...
eu estava fantasiado de Super Mario Bros
à caminho de uma festa a fantasia que seria relaizada na cidade natal de meu ex amor.
havíamos terminado à alguns meses, e ele ja estava namorando novamente. Eu não.
Eu ainda namorava com ele na minha mente, não havia outro.
E se estivessemos juntos ele seria o Luigi, ja que era magrelo e alto. Mas não estavamos.
estavamos apenas mantendo uma simulada amizade, quando ele me convidou para ir
até a casa da prima dele, onde estaria havendo um churrasco no dia da festa
para que ele pudesse ver como havia ficado minha fantasia.
eu me animei, achei que não era a fantasia que ele queria ver,
e sim o recheio dela. (eu) hehehe ¬¬
e eu fui, parecia mais um Super Mario top model, lindo e perfeito.
fui de carona com um amigo que também ia a festa, 
eu tinha emprestado à ele uma outra fantasia minha de mago.
e lá fomos nós, ele me deixou na casa da prima do meu ex amor, vestido de mario,
e disse que a meia noite, viria me buscar para irmos à festa a fantasia.
antes que eu virasse uma abóbora, prometeu ele.
a noite transcorreu normal, devo dizer que achei estranho eu ser o único
ser humano fantasiado no churrasco, mas nem me importava. ele estava lá.
e o novo namorado dele que nem gostava dele tanto quanto eu, não estava.
então eu o abracei apertado no começo da noite, e vi como ele estava bem vestido
para um churrasco em familia, achei que era por minha causa já.
e fiquei feliz. a familia dele era maravilhosa, todos muitos simpáticos e engraçados.
especialmente a prima dele, que é uma das pessoas mais legais que conheci.
estava uma noite pesada, nuvens negras e nada de chuva. aquele clima parado como hoje.
e foi quando a bebida começou a subir, e de assuntos bobos como : 

-Você lembra quando eu disse aquela abobrinha? XD

ele começou a falar detalhadamente o que fazia com seu novo namorado, 
e com uns 100 antigos antes de mim.
disse em alto e bom som para toda a familia dele rir, e comentar a respeito, 
os tamanhos dos pênis, as chupadas estranhas, os aparelhos dentais, o hálito de fulano,
o anús peludo de ciclano, e eu lá ouvindo o homem da minha vida,
dizendo as gargalhadas o quanto era rodado, o quanto ja tinha feito loucuras,
o quanto era vivido e experiente,  e o quanto eu era nada.
um nada, aposto que quando ele conta essas historias fora da minha presença,
eu sou o carinha com uma tatuagem na bunda, nada mais
talvez nem nome eu tenha nessas historias e talvez seja até melhor assim.
mas enquanto ele dizia aquelas coisas horriveis, 
que tinham o efeito de lanças para o coração de um garoto apaixonado 
que ainda não o havia esquecido. 
ele sugava meu sonho, ele sugava o que eu sentia por ele, ele sugava minha admiração
e quando ele terminou, eu não era mais nada, 
talvez nem cor mais eu tivesse. estava perplexo, vestido de mario bros
numa festa de familia, de uma familia que não era a minha.
de um namorado que não era mais meu, com amigos que não eram meus, 
numa cidade que nem era a minha. onde eu estava? 
o que eu estava fazendo?
meu coração não bombeava mais sangue, ele apenas sangrava... 
e eu fechei minha cara numa expressão tão estranha que talvez 
nem eu mesmo me reconhecesse, mas eu ri das piadas, 
comentei sobre a atuação sexual de cada um dos homens de quem ele falou
e no fim da noite enquanto estava pálido e tremendo, 
ele julgou talvez que eu estava com frio,
veio e me abraçou e colocou nos meus ombros a sua jaqueta,
e quando fez isso, eu até vi aquela pinta no ombro esquerdo dele 
que eu tanto gostava de beijar. 
mas não era o frio de fora que me deixou ali tremendo, e sim o frio de dentro,
um frio que estava dentro de mim, o frio da morte. 
afinal com as palavras dele, ele arrancou tudo.
não havia mais nada dentro de mim alem de um céu nublado que se recusava a chover.
e exatamente à meia noite, quando eu ja estava implorando aos deuses misericórdia,
começou a chover, e a noite ribombava de trovões, e água para todos os lados, 
e eu a invejava pois não podia fazer o mesmo, eu não podia chorar, 
não podia sair daquela fantasia de mario e voltar a ser o Roberto, 
e esquecer tudo, chorar porque meu ex amor, se tornou um ex nada,
porque eu sabia que ele nunca mais viria a ser o meu amor novamente, 
ele não era o homem que eu pensei que ele fosse. ele não era mais nada
o garoto vestido de mario que estava apaixonado e foi tentar reconquistar seu amor,
havia se transformado num garoto triste e friolento que estava vestido de palhaço.
estava tão confuso que nem sabia mais quem era o Roberto, 
quem era o mario, quem era minha mascara.
e se não podia ficar pior, eu estava isolado da cidade naquela tempestade, 
e meu amigo não foi me buscar. 
até hoje não sei o porque, e sinceramente não me importa, o mau ja estava feito.
eu estava ilhado na casa da prima do meu ex, e vestido de mario.
ela como toda pessoa legal, ja que não havia nenhum carro 
para me dar carona até a festa ou à rodoviária, 
me convidou para dormir ali, junto com meu ex, num colchão de casal. 
ele não protestou, pelo contrário, eu percebi que mesmo fantasiado 
a minha presença era completamente indiferente,
e vestido de mario eu deitei do lado dele mais uma vez, a ultima vez, me virei pro lado.
de príncipe encantado, ele virou um monstro,  tinha medo dele
estava tão machucado, que tinha medo do que mais ele pudesse fazer pra me machucar
e a minha maior dor, é que eu não podia demonstrar que sofria, o sorriso não
saiu da minha face nem por um instante sequer. 
ele apenas ligou a tv, e ficou comentando com a prima dele, 
o quanto os homens do seriado OZ que estava passando no sbt de madrugada eram gostosos, 
e o quanto ele cataria cada um deles, e o que ele faria com cada um deles, 
falou isso detalhadamente varias vezes com ela enquanto eu estava ali congelando, 
juro que minha respiração tinha até aquela fumaça de gelo.
ele e ela adoremceram, e eu abandonado pelo meu amigo 
que ali havia me largado fantasiado de mario.
levantei-me e fui até a sala onde sozinho, completamente afastado de olhos curiosos.
eu chorei. 
E chorei a noite inteira, junto com a chuva lá  de fora. 
E a chuva dentro de mim era tão pesada e barulhenta quanto a outra, 
cheia de trovões e relampagos e ventos, e eu via ela chover.
e ela me via chorar e fomos companhia um para o outro durante toda a noite,
enquanto eu morria de frio, aquele frio da morte.
chorei tanto que meu coração acabou chamando a única pessoa
que mesmo quando eu tapo os ouvidos
para não escutar o garoto no meu peito gritando
ela o escuta e ainda o acalma... (Perla*)
 mesmo ela morando na minha cidade, é muito sensitiva, 
e me escutou chorando de muito longe 
conseguiu me telefonar na mesma hora em que eu estava morrendo, 
e ouviu minha ultima confissão, eu ainda o amava.
Na manhã seguinte eu acordei e vi que durante a noite aguem 
havia se levantado e me coberto.
Talvez o Roberto da noite anterior tivesse perguntado quem o havia coberto,
mas ele morreu durante a noite, o novo Roberto, não se importava.
meu ex ja havia ido embora e nem se despediu de mim. melhor assim.
nunca mais o vi de novo.
juntei uns pedaços meus que haviam se espalhado por aquela casa, 
e com o resto do meu dinheiro e da minha dignidade fui até a rodoviária 
voltar para a minha casa.
naquela madrugada, enquanto chovia e eu chorava, 
eu senti que um Roberto estava morrendo naquele sofá,
o Roberto que se fantasiou de Mario, e foi até a casa de um amor tentar reconquista-lo,
mas que falhou terrivelmente, e que foi esquecido pelo amigo, 
e no fim da noite em seu leito de morte foi coberto por um estranho.
e ali na paz da noite chuvosa aquele Roberto morreu.
 sozinho. 

O outro Roberto nasceu dos trovões daquela madrugada.
Ele simplesmente nunca mais voltou a olhar nos olhos desse amor, 
que para ele não significava nada.
nunca mais falou com esse amigo que havia esquecido o falecido Roberto lá.
e ainda se sente em divida com aquela pessoa que ele nunca soube quem era, 
mas que foi a unica pessoa com humanidade para cobrir um garoto 
que estava morrendo de frio, e da pior espécie de frio,
o frio que vem de dentro.
nunca mais ele foi o mesmo, e talvez morra de medo, só de pensar em voltar a ser.
nunca mais ele amou, e nunca mais sentiu um monte de coisas.
o que sobrou daquele Roberto, está agora aqui escrevendo 
e implorando que a chuva caia de uma vez,
para que ela seja sua companhia de novo.

p.s. sem mais, isso foi só um desabafo.




Um comentário:

  1. Posso te chamar de Beto?! ^^
    Pois bem, Beto. Acabei de ler o que escreveu e me veio um monte de músicas na cabeça (Björk, Alanis, Autumn, Avril, Evanescence... um monte mesmo). Eu até citaria os trechos das músicas que quase se igualam ao seu desabafo (não em palavras, mas em sentimentos), mas penso que isso deixaria de ser um comentário e seria o capítulo de um livro.
    Acho que eu nem tive oportunidade de conhecer o antigo Roberto, só posso imaginar. E o novo Roberto é como a fênix, certo?! A única diferença é que não nasceu do fogo, mas do frio. E apesar de sermos amigos tão distantes (somos amigos, neh?!) eu estou tão orgulhoso de você. Sinto pelo sofrimento que passou, mas o importante é que você conseguiu superar e se fortalecer. E, ao contrário do que alguns podem pensar, chorar jamais foi sinônimo de fraqueza. Justamente o oposto, há quem quer muito chorar, na esperança de que as lágrimas levem embora consigo as dores. Alguns chegam até a forçar, o que resulta em duas ou três lágrimas solitárias.
    Eu "tô" quebrando a cabeça pra pensar num final de comentário digno, mas "tá" difícil. Não consigo transformar em palavras o que senti ao ler o seu texto. Mas, resumindo, se o atual Roberto, independente de todas as mudanças, está feliz, está tudo bem. Exatamente como no conto "Tudo está bem quando acaba bem".

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