19 de fevereiro de 2013

Os Príncipes do meu Reino: Olavo Bilac.

Olavo Bilac



Maldição

Se por vinte anos, nesta furna escura, 
Deixei dormir a minha maldição, 
- Hoje, velha e cansada da amargura, 
Minh'alma se abrirá como um vulcão. 

E, em torrentes de cólera e loucura, 
Sobre a tua cabeça ferverão 
Vinte anos de silêncio e de tortura, 
Vinte anos de agonia e solidão... 

Maldita sejas pelo Ideal perdido! 
Pelo mal que fizeste sem querer! 
Pelo amor que morreu sem ter nascido! 

Pelas horas vividas sem prazer! 
Pela tristeza do que eu tenho sido! 
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!... 

Olavo Bilac, in "Poesias"



Da série "Príncipes do meu Reino", homens encantadores e maravilhosos cujo talento literário eu admiro, hoje, Olavo Bilac, sagitariano, passional, jornalista e poeta, nasceu no Rio de Janeiro, membro fundador da Academia Brasileira de Letras, foi jornalista, poeta, frequentador de rodas de boêmias e literárias do Rio. Deixou de nos brindar com sua beleza física e transcendental em 1918. Não posso ainda definir em palavras o quanto este soneto me defende e me vinga, espero que gostem e procurem ler mais coisas dele.





9 de fevereiro de 2013

Adeus à carne.





"Não há último adeus, senão aquele que se não diz."
Alexandre Dumas



Adeus à carne, em especial a sua, que durante breves e estigmatizados momentos esteve entre meus dedos, lábios e que depois disso, talvez (ainda) esteja em minha memória cognitiva, o tato, o sabor, o não-vem-ao-caso, etc.
Adeus à nossa não-história, cujo final imponho a mim mesmo agora, cujo meio ainda não decifrei e o começo, rebento como todo começo é, não resistiu aos nossos tão raros (des)cuidados. 
Adeus a mim também, o ser que fui, algo construído de fantasias futuras e de um 'eu idealizado' e adiantado para você. 
Adeus às respostas que calaram e as perguntas que finalmente cessaram, dando lugar a uma conformidade pesada, abafada como a atmosfera que precede a tormenta, adeus ao meu tormento que deságua agora.  Adeus à seca, ao silêncio, a ausência proposital, a ausência esperançosa cheia de um 'querer fazer-se presente' por detrás de cada falso não falar contigo, cada vírgula e contexto, cada grito nas entrelinhas, cada silêncio escandaloso demais para ser verdadeiro. 
Adeus à minha infantilidade e ao meu eu-lírico, que ainda acreditava nisso, em nós, em você e principalmente em mim, acreditava que eu conseguiria lidar e organizar diariamente este caos do sabe-se-lá-deus-quando.
Atesto aqui a minha total incapacidade, inaptidão e incompetência em lidar com você.
Eu o desejei por tanto tempo, em desenhos rabiscados, em letras de músicas cantadas a longos tragos, e plenas de sentido naquela ocasião, e agora digo adeus à todas elas, aos sentidos, aos filmes, ao apelido, a metáfora que fomos um para o outro.
Uma parte de mim que cisma em remanescer, ainda se pergunta o quão intenso realmente foi nosso contato, que por mais breve que tenha sido nos encheu em uma única lufada de tanta esperança...
Permanece ainda aquele gostinho de missão não cumprida, mas eu sei que ele também no devido tempo desaparecerá, como nós dois, que o antecedemos na distância da jaculação amorosa. 
Adeus ao não-era-para-ter-sido, adeus ao não-foi-como-eu-esperava.
Adeus ao nosso não saber continuar.
Adeus a nossa parada brusca.
Adeus ao sonho, ao contato, ao tanger em algo aparentemente sólido, coisa tão rara num mundo fluídico de onde fugimos (um para dentro do outro) e para onde retornamos agora, o mundo etéreo que nos recebe de volta, acolhedor em toda sua inconstância.
Adeus ao que somos agora, incompletos, órfãos, errantes, rebentos, mas principalmente, adeus ao que nunca chegamos a ser.
Adeus a lição que nos ensinamos.
Adeus.