15 de março de 2011

Soneto adiposo...



Soneto Adiposo

Excesso, palavra que me acompanha na vida,
ambos seguimos aumentando em peso;
Define em significado a dor de uma ferida
Que jaz aberta num corpo obeso!

É causa do meu desencaixe no mundo fino
A razão de ter nascido livre e me sentir preso
Mergulhando em mim, num submarino
Para fugir da balança, em desprezo.

O erro é guardar tudo para dentro, o desejo,
De me fitar no espelho e gostar do que vejo.
E não tentar ser como o homem de fora

Tão magrelo, pela mesmice sufocado,
quando de frente parece de lado,
quando de lado parece que foi embora.


Apenas a reflexão de um homem gordo, um homem que sabe que é gordo e que também sabe que pesa 100kg e tem 1.80m. Um homem que tem espelhos, que tem fome e as vezes não come, e as vezes corre da balança, ou corre na esteira para fugir de um problema sem sair de fato do lugar. Um homem que ja foi admirado, e descartado por ter mais de dois algarismos numéricos representando o todo do seu ser, e que as vezes é lembrado que é gordo por uma pessoa que o olha como se ele desconhecesse tal fato, aqueles que lhe sugerem o Vigilantes do Peso, poderiam muito bem fazer parte do Vigilantes da Própria Vida, pois agem como se este homem tivesse entrado na festa dos magros sem convite e sem roupa de gala. Mesmo gordo, este homem foi amado, odiado, tocado, convidado e desconvidado nessa vida, nessa festa. Queria apenas que todos soubessem, que quem é tão grande como este homem, como eu, é grande demais para ser definido ou indefinido por uma pequena palavra, de cinco letrinhas miudas com tão rechonchudo significado: Gordo. Além do que, três digitos no que o corpo pesa, deveriam ao menos valer três palavras para a tal definição complexa: homem é uma delas, homo é a outra, e a terceira é único, ou ainda outra de sua escolha!


p.s. ja assumi para mim e para outros coisas 
mais profundas e difíceis que meu peso.


































14 de março de 2011

As Bodas de Sonho...




Eu queria um dia me casar.
Casar com terno negro,
não negro cor da ida,
mas negro como o retorno,
sem mais casulos ou metamorfoses
nem a gravata borboleta, 

Quero a gravata social,
como aquela de homem normal,
que me custou a alma para laçar,
para simbolizar no altar
não importa o Deus presente,
que lacei um amor nesta minha vida,
nas ruas por onde amores fogem insanamente.

Eu tiraria meu corpo das mãos da morte
para que um homem o cuide em vida,
e na corte de poetas além da existência,
teria um par de olhos
para testemunhar minha sorte.

Quero a alegria de me fazer presente,
e presente, me fazer notado.
Quero o amor, amor aceso no primeiro trago,
uma vez aceso continuar tragando-o eternamente...

Quero ser sacerdote do Deus sem nome.
E sacrificar minha virgindade sobre o seu altar...
O nome lhe falta pois não o encontrei em vida,
e a virgindade oferecida, seria a de amar.

Queria não me perceber amando,
sentir-me banal e indiferente
e estando com ele viver sonhando.


Queria que para mim fosse como uma surpresa,
que para ele fosse a certeza,
 e que o resto do mundo continuasse duvidando,
que em todas as manhãs no seu leito 
eu me descobrisse acordando...

Queria não me importar com o pensa toda gente
e não me deixar assustar por fantasmas nem correntes
de amigo a ficante,  de ficante a namorado,
que a transformação em casado, limpasse nosso passado,
que jazia sepultado eternamente.
Me agrada pensar nisso adiantado,
preso aqui no meu futuro passado,
estou sempre um passo a sua frente,
gosto de sonhar com ele quando estou acordado
melhor assim, sonhar acordado,
meu sonho exagerado...

Eu sonho que já sou casado,
e durmo com essa certeza no travesseiro ao lado,
pois talvez ele me visite dormindo,
meu sonho por dois compartilhado.
abraçados e entrelaçados no destino...

Nosso leito vazio de um amor presente.
E então ao despertar separados,
novamente em nada
nos transforme nossa mente.




Queria saber seu primeiro nome mesmo não entendendo seu significado,
queria descobri-lo de pouco em pouco,
e então pelas convenções sociais evolutivas do amor,
passear com você de braços dados, como amigo, ficante, 
companheiro, enamorado...
Queria também que me levasse um dia ao sepulcro da poetisa,
para que você se torne não a fonte, mas o provedor
tanto da minha alegria quanto da minha dor sem mais tristeza,
e dos Campos Elísios ela nos escutaria, a sua voz e o meu chamado,
e depois de uma pequena oração e vela acesa;
A ela diria:


"Florbela, teu corpo transformado em rosa,
de amor e tristeza brotando através da terra,
a semente guardada num coração delicado...
Que na montanha solitária se encerra.
Pisamos juntos onde tua agonia encontrou um fim,
caminho a ser trilhado por nós em sua direção,
mas antes que a morte o arranque a  força de mim,
queria lhe apresentar sem mais enredo
quem está diante de ti neste solo sagrado
mãos dadas as minhas em segredo,
é aquele aquele a quem pertenço, meu amado..."