10 de janeiro de 2011

Não fizemos...




"Não passes o tempo com alguém que não esteja disposto a passá-lo contigo. 
 É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, 
 onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. 
 O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, 
 pois a vida está nos olhos de quem saber ver. 
 Tudo é questão de despertar a tua alma."
 Gabriel García Marquez



Nós não fizemos na luz; não fizemos no escuro. Não fizemos na grama de verão rescém-cortada ou nos montes de folhas de outono ou nas gotas de chuva em que o luar deixava cair as nossas sombras. Não fizemos no seu quarto no colchão descarnado em que você dormia, o colchão que você dormiu quando meus braços procuravam o seu leve contorno no escuro, ou no assento de trás do Pegeut prateado do amigo, que cheirava a estrada e à bebidas alcóolicas transportadas diariamente e entregues nos confins do estado de São Paulo. Não fizemos nem na casa onde um rosário se enrolava na estante como uma cobra preta de contas com presas de prata em forma de cruz. 
No beco sem saída do nosso amor - um quarto estranho à nós dois - onde aperfeiçoei o toque tímido e ao mesmo tempo ousado; encostado a parede onde você me tocou pela primeira vez através do meu jeans, onde limpei os restos do sabonete das minhas palmas e passei-as pelas suas coxas acima e você sussurrou algo doce, que devido a amargura posterior, não me recordo, não fizemos.
Mas não fizemos, não ao luar, ou às lanternas fosforescentes dos vaga-lumes no quintal, não sob as constelações que não podíamos ver, muito menos decifrar, ou no fulgor escuro que substituía a verdadeira escuridão da noite, uma escuridão já roubada de nós, não com a silhueta das casas erguendo-se atrás de nós enquanto uma cidade se arruinava pouco a pouco, não no calor do verão e apesar da liberdade da juventude e da licenciosidade de um amor idealizado - em razão de quê, carma, sorte, que importa agora? - transformamos o não fazer numa maravilha, e no entanto não fizemos, não fizemos, nunca fizemos.


p.s. as lições foram aprendidas e as rodas continuam a girar...
p.p.s. 2011 na numerologia será o ano do verbo "acumular", 
que vocês meus queridos, só acumulem alegrias.


Beijos sinceros...

7 de janeiro de 2011

Sal


"Deve existir algo estranhamente sagrado no sal:
 Ele está em nossas lágrimas e no mar..."

Khalil Gibran 



Roberto permanece por algum tempo onde esta.
Ele inclina a cabeça para trás e fecha os olhos castanhos contra o sol,
e pensa em como o amor pode ser louco.
É assim que ele está, parado de pés nus nos ladrilhos de quartzo,
com a marca de sal das lágrimas deixada na face,
e uma estranha espécie de sorriso no rosto...