22 de novembro de 2010

Luz



Era um tímido, acanhado,
um mimado, infantil e carente,
esperando movimento do trem à frente,
eu cheguei em tua vida atrasado.

Tropeçando em verbos terminados sem ar,
(amar, calar, revelar, ocultar)
perdia o sujeito, não via o predicado.
Sozinho eu sofria adiantado:
antes, durante e depois de te encontrar.

Pensava eu como pensa todo amante:
nenhum obstáculo conseguiria pagar,
o preço de ser réu confesso perante,
os juízes castanhos do teu olhar.

Éramos objetos nos achados e perdidos,
e nos encontramos depois de esquecidos.
Qual metrô pegar? Qual estação descer?
Esquecia meu nome, mas o teu não podia esquecer.

A cidade, antes estranha, acinzentada,
rua adentro, você pisava, ela sorria;
e quando andava julgando-se só na calçada,
o meu passo acompanhava o dela, que te seguia.

Na linha mais azul da minha vida
foi escrito o teu nome numa estação
raro momento esse de sonho e alegria
sem pensar sequer na futura baldeação.

te perdi na multidão.

E com a tua maestral candura
ensinou-me a mais linda lição:
Não há no mundo relação segura,
existe o risco de contrair paixão.

p.s. para o príncipe que jaz no meu passado. 



Poema Luz, Roberto Rodríguez, Junho de 2010.

17 de novembro de 2010

Abissal



Sou um homem banal,
que abraça as quimeras, que vive em outras esferas, 
se recorda de outras eras,
que foge do real, mata gigantes de pedra e teme o imaterial, 
Um puro equivocado, daqueles que nunca foram destilados, 
daqueles pra quem o acaso,
está longe de ser mero acaso, 

Sou covarde, um homem fatal,
fatal para si e para aqueles que se encantam com meu mal,
um fumante viciado em tragos, não em cigarros.
Um alcóolatra da fantasia, um exaltado, um exagerado, 
que sente tudo vezes dois ao quadrado.
Tento, tento e não consigo. Giro nas rodas do destino, 
dou 360º e volto do principio.
Os Deuses riem de mim, e nos meus melhores dias eu riu também.

Sou aquele que não é preferido, mas nunca é ignorado,
sou o mais ou menos, 

Não sou motivo de orgulho nem pra mim nem pra ninguém, 

Faltou algo no meu leite, pulei a fase de édipo e narciso, 
fiquei meio indeciso quanto ao que sou.

Não sou nada, é o que aprendi, quanto menos eu sinto, melhor fica existir.
Sou um quebra cabeça sem canto, uma cabeça quebrada sem juízo, 
sou o único causador e a única vítima do meu mal.
Sou o Príncipe do meu Reino Abissal.


p.s. um sapato, será sempre um sapato
mesmo feito de cristal encantado.
p.p.s. e os sonhadores devem sonhar apenas dormindo,
pois os sonhos não devem existir quando se está acordado.