18 de novembro de 2009

Leão


Não existe de fato nenhum signo em particular no zodíaco com qual eu seja mais compatível, costumo me dar bem com todos, mas não se deixe levar pela bondade aparente, na maior parte do tempo, não confio em mim mesmo.
Minha mãe me acha perfeito, e eu sempre acredito no que ela me diz, outro fato considerável da minha personalidade.
Me sinto várias vezes por dia, como se fosse um presente dos Deuses há humanidade, ou mesmo uma sabotagem das forças do mal, isso quando não penso que irei acabar morrendo de uma overdose de satisfação comigo mesmo.
Carrego um reino de cristal reluzente dentro de mim, delicado, sensível e bem escondido,  debaixo de uma juba bem tratada regada a L'Oreal.
Minhas pedras nos rins, são na verdade cristais Swarovisk.
Meu sangue não azul, é metal liquido, mercúrio, correndo, deslizando e me envenenando grande parte do tempo.
Eu sou de leão, com ascendente em leão, e vênus em leão também, qualquer um que entenda de astrologia deve ter entendido esta ultima frase da seguinte forma: blah blah blah sou Belzebu.
Encaro o amor como uma missão, uma odisséia, um conto lírico e mítico, que acontece mais na minha cabeça do que na própria realidade, trago todo o mundo das qualidades dentro de mim, e costumo me enamorar pelos defeitos dos outros, infelizmente.
Sou um homem difícil, de gostos caros, quase um exaltado, eternamente insatisfeito, eternamente pedindo mais, guloso e insasiável.
Mas um Jaguar, não pede desculpas ao seu dono, por sua manutenção custar $10.000,00 , portanto não espere isso de mim também.
Fidelidade, não é uma palavra muito familiar quando é amor a pauta do assunto, prefiro Lealdade, a mim mesmo e aos meus desejos claro.
Amizade sim, algo que amo cultivar, e a cada ano me aperfeiçoo nisso, com a ajuda dos meus súditos, quero dizer, amigos.
Rei, jamais, adoro enganar a mim mesmo, de que não ostento coroa em parte alguma do meu corpo, e tenho fases, mas são mais rápidas e violentas, são as fases do Sol, ora ardente, ora congelante, porem sempre presente, abandonar é algo extremamente difícil para mim, assim como amar.
Pior que amar, é me permitir ser amado, é tangir a realidade de um relacionamento, sem o glamour da minha criatividade.
Fogo, é um ótimo elemento a ser comparado, luz, calor, criação, devastação, altos e baixos, extremos dentro de mim.
Eu sou a casa, a mansão inteira na realidade, onde a elegância decidiu viver permanentemente.
A covinha no meu lábio superior, aconteceu de uma forma engraçada, quando nasci, um anjo desceu da Constelação de Leo*,
e me contou um segredo: "Lhe dou o Orgulho, guarde tudo para si, não deixe saberem o que se passa aqui dentro..." e então tocou meu lábio e disse: "shhhh, é o nosso segredo!" e desapareceu, para sempre. Guardei bem o tal segredo.
Enfim, sou um Leonino, um dos mais leoninos que já conheci, meu ursinho carinhoso favorito era o Coração-Valente.
Me ame, ou me erre, minha mente vai do sagrado ao profano em menos de um milésimo de segundo.
Sou um Jaguar mesmo, de dificil manutenção, mas que vale a pena ser ostentado, ao lado de quem quer que seja, e os elogios tedem a funcionar melhor comigo, do que chocolates e flores, mas não confunda isso com bajulação. 
Me canso fácil, e na minha corte não admito bobos, sinto a ervilha por debaixo dos vinte colchões se necessário.
Meu nome é Roberto, e desde o fatídico dia 6 de agosto de 1987, sou um leonino. 
Me desculpe, mas não posso te ajudar a ser um também, eu ja nasci assim.
A carta da Força no Tarot, o Sol na galáxia, a França do mundo, único.
E se você se identificou com alguma coisa aqui, deve haver um leão rugindo tímidamente numa das casas do seu mapa astral.
Estou me sentindo infeliz, incompleto, mas isso não é motivo para deixar de sorrir.



Sem mais, beijos sinceros.


12 de novembro de 2009

João Antônio, o Príncipe...







João Antônio é príncipe, é  belo do seu jeito, é sério, mas já foi sapo, foi feio, foi puro sexo...
Foi o sapo de outro João, do Renato, do Claudemir, do Diogo, do Nando, da Natália na adolescência. Foi muito feio na puberdade, teve inúmeros apelidos: Narigão, Napa, Choquito branco, Tablito;  e muitos outros, todos evidenciando suas espinhas, seu nariz grande, seu jeito desengonçado.
João Antônio já se apaixonou uma vez perdidamente por um rapaz mais novo e muito mais belo que ele, e assim como um vampiro o tal rapaz sugou seu pau e suas fantasias sobre um dia viver um grande amor, e sugou bem, até a ultima gota, até machucar o corpo e o coração de João Antônio com seus aparelhos dentais.
E então depois disso, João Antônio ficou diferente, ficou um pouquinho mais bonito, mais sozinho, quis tirar um pouco de proveito da vida e quis transar mais, quis sentir o seu corpo, quis se apaixonar de novo, e foi isso que fez.
Transou feito um louco, se apaixonou por todos que conheceu, por seus amigos, por metade da cidade, e por metade de si mesmo. Era descrito como um rapaz alto de aparência mediana, voz grave, e  era bom de cama. E sua vida se desenrolou assim por muito tempo.
Fora isso João Antônio também trabalhou, e trabalhou muito, dentro de sua enorme cidade só conseguia pensar nisso, trabalhar, trabalhar e trabalhar...
Depois de um certo tempo, quando cansou das maratonas de encontros as escuras com garotos virtuais, de sexo fácil, ele comprou seu primeiro carro, e decidiu que estudaria pra valer, que faria uma faculdade.
E foi o que fez. Informática.
Conseguiu entrar na faculdade de seus sonhos, aos 23 anos, quando um único fio de cabelo branco havia crescido sorrateiramente em sua nuca. Percebeu que durante as aulas não conseguia enxergar bem as letras na lousa ou mesmo no computador de seu trabalho, o oftalmologista apenas disse uma palavra: Miopia, e João Antônio teve que começar a usar óculos também. A idade havia chegado.
Estava finalmente bem, estável, estagiando, bem remunerado, ok, não tão bem remunerado assim mas se sentia útil e isso já é um bom começo. Tinha um bom emprego, tinha seu carro do ano que não vem ao caso, estava cursando sua tão sonhada faculdade e sempre tinha um trident de menta-verde-escuro em seu bolso para os momentos de crise.
A princípio ele não percebeu, mas não demorou muito e ele notou. Não ia mais com tanta frequência para baladas e há dois anos não entrava em nenhum dark-room. Já não enxergava os homens como costumava ver e isso não era mérito de sua recente miopia, fora que fazer sexo se tornou algo tão distante e deixado pra ultimo caso, como frequentar um bom cabeleleiro.
João Antônio via seus amigos regularmente, até ajudava em casa com um pouco do salário, o que restava. Toda a sexta tinha a cervejinha com seus amigos nerds da Faculdade, mas fazia meses que João Antonio não abria o ziper da calça com uma intenção menos cristã, há meses sua única companhia era sua fiel mão esquerda, sim, era canhoto.
João Antônio olhava para si mesmo diante do espelho e não se reconhecia, colocava a pasta na escova de dentes enquanto se perguntava "Cadê o João Antônio sapo? E o chokito? E o narigão? E o alto bom de cama?"
Sem que ele percebesse eles haviam se transformado. E agora, com a regata velha que usava pra dormir, sua imagem o olhava refletida no espelho, lá estavam apenas o João Antônio amigo, o maduro, o sério, o príncipe.
Um príncipe alto, bem vestido, com óculos de grau, uma pequena tatuagem discreta no braço, fruto de sua rebeldia passageira, agora com vários fios de cabelo branco, 25 anos, um jovem-moço, um jovem príncipe.
Porem solitário. Afinal, toda a graça dos contos-de-fada é encontrar ou transformar o tal do príncipe encantado. Um príncipe já feito sozinho, não chega a ser tão interessante quanto um sapo, ou mesmo uma fera.
Estava sentado na mesa da biblioteca da faculdade com nove exemplares de livros diferentes, pensando justamente a respeito de como havia mudado, em como havia crescido, porém sem ninguém ao seu lado pra ser testemunha ou mesmo notar mudança.
E foi aí que o outro entrou. Taciturno, silencioso, como um gato (gordo) doméstico.
Entrou,  sentou do outro lado da sala bem no canto, jogou sua pesada mochila no chão, abriu um livro, e desapareceu. Lia tão atenciosamente que parecia ser invisível lá dentro, um ser etéreo, um adorno da biblioteca.
Mas João Antônio o viu.
E o viu claramente, como se aquele moço discreto e silencioso fosse o Sol, uma estrela de fogo tentando inutilmente ocultar seu brilho. 
João Antônio voltava sua atenção para os livros e resumia algumas linhas, mas não podia deixar de observar em silencio o moço do canto, e o observou por muito tempo.
João Antônio escondido atrás de seu livro e o tal "Sol" escondido atrás do livro dele.
João Antônio o analisava completamente, e o pobre moço nunca julgaria em seus sonhos, que despertaria tamanho interesse em um desconhecido. Ele viu o seu tênis, sua calça jeans, sua camiseta branca, estilo polo, podia alguém ser mais discreto que isso? O rapaz era gay, sem dúvida, tinha uma aura sensível demais para ser um homem hétero.
João Antônio viu que o tal rapaz tinha tatuagens bem visíveis, uma bem no pescoço, com algo escrito, ilegível aquela distancia, aquele disfarce.
E quanto mais o olhava, mais interessante o moço no canto da sala ficava.
Não, aquele moço ainda não havia se transformado em um príncipe como João Antônio, mas também nunca havia sido um monstro ou uma aberração.
João Antônio ainda não sabia, mas vou dizer a vocês, o nome do rapaz é Roberto.
Roberto é o moço que escreve a crônica, que é dono do blog, que ainda não é príncipe, mas é mago, de aparência calma e simpática, cabelos e olhos bem escuros, contrastando com sua pele morena tentando ser branca.
Porém Roberto já foi brega, já foi gordo, bem gordo aliás, já foi puro sexo também...
Quem o olhasse naquele momento, perceberia apenas um jovem normal, acima do peso ideal, de aspecto agradável, grande, iluminado. Mas para João Antônio aquele rapaz chegava a ser naquele momento bem mais que isso.
Ele já nem se lembrava o porque havia entrado naquela biblioteca e se alguém o questionasse naquele momento, distraído como estava, responderia que só estava lá para ver o moço no canto da sala de leitura, talvez só tivesse prestado o vestibular e entrado na universidade para ver o moço do canto da sala de leitura.
O moço a quem ele havia carinhosamente apelidado de "Sol" devido a sua incrível força magnética,  sua pele  levemente bronzeada e seu sorriso de canto de boca, que aparecia vez ou outra, conforme seus olhos negros percorriam as páginas do livro que lia com tanta gula.
Mas apenas vê-lo, ali parado, sozinho, era  pouco.
João Antônio queria devorá-lo, mergulhar dentro dele, conhece-lo, queria saber que seu nome era Roberto. Pensava que isso tudo, essa baboseira sentimental era coisa de filme de romance hétero  nunca em sua vida havia conhecido um casal gay que se encontrou por acaso num ônibus,  num metro, num cinema, muito menos em uma biblioteca.
Porém estava decidido, não sairia de la sem ter ao menos o nome do moço, e duas informações relevantes sobre ele. Levantou-se apoiando as mãos na mesa para encorajar-se, segurou um livro qualquer na mão e foi andando em direção ao canto da biblioteca.
O moço nem sequer percebeu a aproximação de João Antônio, e este já conseguiu chegar perto o suficiente para ler o título do livro que o rapaz lia escondido e desaparecido ali no canto: "Para ler como um Escritor".
O sorriso foi inevitável, o título do livro era estranho e não combinava em nada com o rapaz tatuado, o  tal moço deve ter ouvido os lábios de João Antônio se contraindo em um sorriso, pois o enxergou no mesmo instante, o instante do sorriso, mas não um sorriso debochado, um sorriso sem graça com gosto de alívio.
E o moço sorriu também... Não um sorriso sem sem graça, e sim um sorriso que aguardou anos para poder sair, e se espalhar pela biblioteca aquela noite.
A ainda naquela noite, o João Antônio ficou sabendo que o nome do moço era Roberto, e também soube duas informações relevantes sobre a vida dele, mas isso é outra história...


Informações relevantes:
1° Roberto sonha acordado.
2° Roberto escreve e ocasionalmente interage com seus personagens.


E para o João Antônio isso foi um final de um breve conto, 
e o começo de um romance best-seller de 500 páginas.


Fim.







6 de novembro de 2009

- Acércate un poco más... ♪




Um trago longo, longo demais para mim, a fumaça sobe, e avisto as musas atravessando-a, e vindo abraçar-me, usam patins, daqueles antigos de quatro rodas, e me dão beijos  nas bochechas, felizes com nosso reencontro, elas dizem: escreva...
Meus olhos caem no chão, confusos, escrever, e escrever, é o que faço, é o que tenho feito, e para quem? Meus textos nunca tem um porque, ou para quem. 
Uma delas, a mais gorducha e engraçada, me fala com sua voz forte :
Escreva sobre aquela xicara de café, que você derramou agora, e deixou teu quarto cheirando café, escreva sobre os homens e as mulheres, sobre seu coração, uma casa limpa e impecável,
porem vazia e sem placa de "vende-se", escreva sobre tua irmã de verdade, e sobre as almas
que são um pouco irmãs da sua, escreva sobre o moço que te amou de verdade, e como foi bom
descançar um pouco da realidade sob as asas dele. 
Ja outra, magra, alta e elegante me diz: Bobagem, escreva sobre o passado, sobre o que sentiu, talvez alguem em algum canto o sinta agora, e vai ser reconfortante para esta alma ver que você o sentiu também, e escapou, escreva frases de teus escritores, pintores e artistas favoritos... Escreva qualquer coisa.
A líder delas, um pouco mais madura me diz:
Escreva sobre aquela noite, em que se agarrou ao meu seio e chorou, implorou palavras, e eu
as lhe dei, uma a uma, mas não quis passa-las a diante, elas estão guardadas numa gaveta de teu coração de colmeia, cheio de espaços preenchidos e vazios, aquelas palavras que achou que ele não merecia ouvir, escreva sobre as vezes em que foi criticado, e em que passou a mão sobre a sua própria cabeça, escreva sobre o copo de cerveja que virou em cima do seu rival, e como isso o fez se sentir bem, escreva sobre as conversas sobreas, e sobre as conversas encharcadas de alcool, e lágrimas...
E outra me diz:
Escreve sobre os x-men, e como eles o acompanharam na tua infancia, teu primeiro amor, escreva sobre os meninos que o atravessaram como se você fosse feito de água, e como se sentiu confortavel ao escutar a música "Preciou illusions" da Alanis Morissette, e como jura até hoje, que esta música foi escrita para você... Escreva sobre o homem perfeito de óculos que o acompanha em seus sonhos, e como você quando olha a Lua, deseja que ele o esteja olhando de volta, de algum lugar deste mundo em que vive, e como se sente um extraterreste 22 das 24 horas de teu dia, talvez outro extraterrestre, leia isso e venha ao teu encontro...
Eu ri e elas também, meu sorriso é cançado, e cheio de preocupações, de coisas que tenho que fazer, de contas a pagar, de provas a passar, de um coração a proteger do amor tolo, meu sorriso é cheio de um corpo que quero urgentemente modificar, de kilos que quero perder, e de dietas que luto para começar, e continuar.
Paramos, dou a elas um gole da minha cerveja, e um trago do meu cigarro, coloco uma música no meu aparelho de som, e a escutamos, nós dez, em silêncio absoluto...
Meus olhos ainda rasos d'água, pelo livro que terminei, e pela história que que me cativou do começo ao fim, e de como queria ter escrito esta história, inveja literária, deve existir. 
Uma delas, cita um verso de Florbela:

"Ter dentro d'alma a luz de todo o mundo, 
e não ver nada neste mar sem fundo, 
poetas meus irmãos, que triste sorte!"

Será mesmo tão triste assim Florbela, acho que escreverei sobre a tal xícara de café que acabei de derrubar, e a derrubei porque via na fumaça do café, meus sonhos antigos se formarem, e se desfazerem, via ele, e via a mim, e me odiava por ver sempre as mesmas coisas, meus olhos enjoaram de rever a mesma cena, mas sou um pouco fanático, por sentimentos, por dores, cutuco-me, provoco-me, quero sentir algo, seja lá o que for, hora amor, hora saudade, hora ódio, de mim mesmo claro.
Tudo gira em torno de mim como sempre, sou leonino, representado pelo sol, redondo e brilhante.
Elas riem, estão satisfeitas, olham-me com ternura e dizem:
Viu só, acabou escrevendo, tolo, se é fácil persuádi-lo a escrever, deve ser mais ainda, faze-lo amar ardentemente alguem, cuidado com teu coração. 
Penso que elas estão certas, sorrio perante minha ingenuidade, acabei escrevendo mesmo. Safadas.
Elas vão-se indo embora, pela fumaça, pelo ultimo trago, e eu penso, será que este foi um bom fim para o meu texto?
A mais gorducha, e engraçada, virou-se pra tras, antes de desaparecer por ultimo, deve ter escutado minha pergunta interna.
Ela me sorri, e diz:
- Beto, não duvide do final, seja deste texto, seja do teu, pois quando este chegar, ele não irá se preocupar, se você acertou ou não.
Ela some, mas antes, escuto sua ultima frase:
- Faça o que sabe fazer, e só.
Bem eu penso, sei escrever.
Então escrevo. 


P.s. O Gudang de canela também é bom, mas prefiro o de cravo.


Beijos Sinceros.


4 de novembro de 2009

- Mi soledad siempre he pertenecido a ti... ♪





A vida vai se cercando, em círculos cada vez mais fechados, enquanto o corpo escapa da forma, o coração se aperta na garganta, e tudo dentro de você pede por um pouco mais de espaço.
Cigarros são acesos, devorados, e descartados.  Assim como eu ja o fui uma vez.
Vinhos são abertos, taças preenchidas, apreciadas, acolhidas dentro de mim.
Vou encharcado aos poucos meu coração, esperando que ele se acalme, que se entorpeça e para de buscar inutilmente, uma ultima corda, um ultimo fio, que o liga eternamente ao sentimento que ele foi feito pra sentir.
Mesmo que o ser humano que tenha ligado a chave do meu trabalhador coração, nem sequer saiba qual a verdadeira cor do meu sangue, disse-lhe que era azul como o mar,  penso que ele  acreditou.
Os deuses parecem se entreter assistindo minha vida se desenrolar, vejo seus olhos brilhantes, verdes mesclados de azuis me olhando lá de cima de relance, antes de se esconderem em um nuvem, ou outra, vejo sua íris na lua cheia, vejo-os tranformados em gatos, em pássaros, em sementes voadoras de dente-de-leão, em amigos, em pessoas entranhas, em homens lindos e cheirosos, vejo-os em toda a parte, me dando dicas, me advertindo, me incitando em direções, eles estão presentes sem dúvida, ouvem meus pedidos, e os atendem.
Mandam-me presentes, lembranças e vez ou outra, castigos, mas eu os aceito, afinal, os mereci. Os deuses são imparciais, justos. Por isso os adoro.
O vinho e o gudang descem queimando minha garganta no calor, mas eu amo o calor, é a única temperatura em que se é feliz sozinho, passar calor sozinho pode ser alegre se o céu estiver azul, ou estrelado, já passar frio sozinho, é uma dor aguda, doída dentro de si mesmo, a solidão é fria, fujo dela, abraço o calor, encosto o cálice gelado na testa para me resfriar um pouco, sonho com lábios que sei, jamais me tocarão novamente, mas minha mente imaginativa, transforma as goticulas do calice, na saliva destes lábios, e no calor, sentindo o vento artificial do ventilador, o gelo do vinho, o beijo do cálice, e o cheiro rescente do pós barba, os cravos do gudang, eu me sento e escrevo, sobre o que sinto, e sobre como o sinto. 
Afinal a vida é curta, mas não é pouca. Olho minha amiga Florbela e com seu sorriso dolorido de sempre ela me diz:

" E se um dia serás cinzas, pó e nada, faça da tua noite uma alvorada, saiba se perder, para então se encontrar Beto!"  

Eu sorrio sem graça, afinal ela é uma das deusas que me observa sempre, tão poderosa em suas palavras que muitas vezes me assusta, muitas vezes ja imaginei que essas palavras saiam de minha própria boca. 
Mas de minha boca, saem apenas coisas a meu respeito, afinal sou o assunto que conheço melhor.
Esta boca agora está com sede, e meu copo está vazio, esperando que mãos gentis, o encham de cubos de gelo refrescantes. 
Lá fora da janela, a minha vida continua mudando, tomando rumos que desconheço,  infelizmente chegou a hora de crescer, de parar de sonhar tanto, de viver acima de tudo, pois a realidade é muito mais interessante e difícil do que a ficção.
Tenho pra mim que as coisas mudaram, mas acho que fui eu quem mudou tudo, incluindo a mim mesmo.
Fazer o "agora" daqui pra frente, começar a trilhar meu caminho, com os dois pés no chão.



P.s. Meu vinho acabou.
P.p.s. A música no aparelho acabou.
P.p.p.s. O gosto, a emoção, o calor, o vento, 
e os sonhos permaneceram.


Um agradecimento especial, aos amigos, 
e as almas maravilhosas que conheço.
Presentes refrescante dos deuses, para este que vos escreve...




Beijos Sinceros.