óculos.

Eu amo o homem de óculos.

Eu amei todos os homens de óculos.

Pra mim,

a parte essencial,

a parte inevitável do homem,

é plural:

são os óculos.

Porque os óculos sempre participam

do meu amor,

barroco amor em crise;

os óculos são um fetiche:

há sempre o momento

dos óculos fazerem strip-tease

e daí o homem fica vesgo de amor

e os olhos do homem

ficam trasprafrente,

transparentes.

Eu amo a mais

os homens vesgos e estrábicos

e estigmáticos.

A tortura dos olhos do homem

me tortura,

me estigmatiza.

(Ah, toda a doçura,

toda a pieguice,

toda a gostosura

que há na vesguice...)

Porque é sério,

é muito sério mesmo, meu poeta,

o homem atrás dos óculos;

mas quando ele os retira,

se transforma, há um pretexto

pra ficar o outro homem

e a gente ama

como se cometesse um incesto.

Eu amo os homens de óculos

porque foram capazes de se cegarem

diante de mim e de me amar (amarem?)

de me amar sem nenhuma visão,

que a do seu próprio e mais cego

coração

(a grandiosa visão de um só momento).

Eu amo os homens

que foram capazes

de me enxergar

por dentro.

Óculos, Yêda Schmaltz

Do livro: "Baco e Anas brasileiras", Achiamé, 1985, RJ 

p.s. Lê² ♥

Demolição. ♥

Esse rapaz é muito esquizito,

o que será que há com ele?

Dizem todos que ele é bonito,

mas não consigo ir com a cara dele.

É tão distante esse seu olhar,

tão negro, profundo e hipnotizante.

Dizem que ele é um mago capaz de enfeitiçar,

mas para mim, ele sofre de um desamor agonizante.

E quem teria sido esse homem demente,

que recusou o que todos queriam conquistar?

Dizem que era só um moço inconsequente,

mas se fosse, restaria  ainda um brilho em seu olhar.

Não! Quem partiu o coração deste moreno,

só pode ter sido um matador profissional,

dizem que era um moço alto de aspecto sereno,

mas pode um ser tão cruel andar por ai como gente normal?

Pobre rapaz esse atrapalhado que vejo,

andando sempre sozinho, desperdiçando seu doce olhar,

dizem alguns, que é imcomparável seu beijo,

mas se fosse tão especial, como pode alguém o recusar?

Se um dia ficasse cara-a-cara com este moreno perfeito,

perguntaria: como pode, tão belo, se deixar enganar?

Dizem todos que ele não tem nenhum defeito,

mas porque foi deixar um qualquer, seu coração tocar?  

Ele a andar, Roberto Torta

Quando a gente conhece uma pessoa, construímos uma imagem dela. Esta imagem tem a ver com o que ela é de verdade, tem a ver com as nossas expectativas e tem muito a ver com o que ela "vende" de si mesma. É pelo resultado disso tudo que nós nos apaixonamos. Se esta pessoa for bem parecida com a imagem que projetamos dentro nós, desfazer-se deste amor, mais para frente, não será tão doloroso. 

Restará a saudade, talvez uma pequena magoazinha, mas nada que resista por muito tempo. No final, sobreviverão as boas lembranças. Mas se esta pessoa "inventou" um personagem e você caiu na dela, aí, somado à dor da separação, virá um processo mais lento e sofrido: 

a  demolição daquela pessoa que você achou que era real. 

Milhares de pessoas estão vivendo seus dias aparentemente numa boa, mas por dentro estão demolindo ilusões, tudo porque se apaixonaram por uma fraude, não por alguém autêntico. Ok, é natural que, numa aproximação, a gente "venda" mais nossas qualidades que defeitos. Ninguém vai iniciar um namoro dizendo: 

muito prazer, eu sou arrogante, preguiçoso e lunático. 

Nada disso, essa é a hora de fazer um charminho. Mas isso é no começo. Uma vez o namoro engatado, aí as defesas são postas de lado e a gente mostra quem realmente é: nossas gracinhas e nossas imperfeições. Isso se formos honestos. Os desonestos do amor são aqueles que fabricam idéias e atitudes, até que um dia cansam da brincadeira, deixam cair a máscara e o outro fica ali, atônito, pois descobriu-se namorando um verdadeiro ser bizarro. 

Quem se apaixonou por um monstro, tem que demolí-lo para se desapaixonar. É um horror. Exige que você reconheça que foi seduzido por uma fantasia, que você é capaz de se deixar confundir, que você é meio idiota ainda, que o seu desejo de amar é mais forte do que sua inteligência. Significa encarar que alguém por quem você dedicou um sentimento nobre e verdadeiro não chegou sequer a existir, tudo não passou de uma representação, e olha: talvez até não tenha sido por mal, pode ser que esta pessoa nem conheça a si mesma ainda, por isso ela se inventa. Mas foda-se, ainda assim, eu diria que é um belo de um cretino, a fôrma que Deus usou para fazer capetas, como diria minha avó. A gente se apaixona por uma aberração, fruto da nossa imaginação, somado à nossa carência excessiva. Criamos como Monet e Renoir, um ser que não existe, e depois de tudo acabado resta a nós destruir a tela em branco que restou, daquilo que parecia ser uma obra prima.

A gente resiste muito a aceitar que alguém que amamos não é, e nem nunca foi, especial. 

Era apenas um pedaço de merda, expelido pela vagina de uma vaca, que teria sido muito mais feliz, optando por usar o anticonsepcional, ou a camisinha.

Depois, estranhos nos perguntam ainda, o porque que temos tanto medo de amar... parece algo tão absurdo. Mas absurdo ou não, o medo de amar se instala entre as nossas vértebras e a gente sabe muito bem o por quê. Afinal o amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, um dia acaba e rasga a gente por dentro, faz um corte profundo que vai do peito até a virilha, o amor se encerra bruscamente, sei lá, vá saber o que interrompe um sentimento? É um mistério indecifrável. Mas o amor termina, mal-agradecido, termina, e termina só de um lado, nunca se encerra em dois corações ao mesmo tempo, desacelera um antes do outro, e vai um pouco de dor pra cada canto. Ter o amor rejeitado, nem se fala, é uma fratura exposta, definhamos em público, encolhemos a alma, quase desejamos uma violência qualquer vinda da rua para esquecermos dessa violência vinda do tempo gasto e vivido, esse assalto em que nos roubaram tudo, o amor e o que vem com ele, confiança e estabilidade. 

Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz, o romantismo perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar e ligar aos prantos para nossos melhores amigos. Mas aí um dia, passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia. Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Um novo amor? Nem pensar. Medo! nós respondemos. 

Mas que corajosos somos nós, que apesar de um medo tão justificado, amamos outra vez e todas as vezes que o amor nos chama, nós fingimos um pouco de resistência, mas sabemos lá no fundo que para sempre será impossível recusá-lo.

'o amor sim é uma grave doença, 

nos deixa na cama por um tempo, 

depois nos deixa de quatro com a cara no chão, 

vendo que tanto tempo desperdiçado, 

resultou numa bela desilusão.'

maridão...

Mesmo que com o tempo te acostumes comigo,

ainda assim, prometo: serei surpreendente,

e em uma dessas longas noites frias,

minha língua deslizaria úmida pelo teu umbigo,

enquanto minhas mãos te segurariam gentilmente...

Cobriria teu corpo com toda a sorte de especiaria

colhida em noites de lua nas pradarias do oriente

e neste instante veria em teu corpo com inocente alegria,

a sereia dos meus sonhos de pequeno menino,

ou a bela deusa da morte a quem este homem oferecido,

entregou-se em sacrifício voluntariamente.

E para o Inferno! Deixe as panelas queimando no fogão,

e que as louças não lavadas dissolvam-se sobre a pia.

Deixa-me só esta noite, afogar nos mares de teu peito,

os desejos em chama deste meu pulsante coração,

presenteie hoje teu homem, como ele sempre sonhou que o faria.

E com um grande esforço eu respiraria,

pois mergulhado entre tuas pernas como estou agora,

mal tenho tempo de me preocupar com o ar, 

e meu cérebro racional, pobre coitado embevecido,

fica enevoado, esquecido, 

pensando em mil formas diferentes de te devorar. 

Meus cabelos, hoje castanhos, irão aos poucos branqueando,

 a mente fugaz, minha memória e meu SPC vão caducando.

os nossos pequenos se formando, se mudando, se casando,

a farinha e o leite no ármario se acabando...

e o fim das coisas vem cruel se aproximando.

Mas no nosso quarto, na nossa *queen size*, o tempo não deita,

e nem ousa mecher nas cortinas que você escolheu,

ou nas gavetas que perdido andei bagunçando,

aqui como me conheceu, reinamos unicamente você e eu...

e é claro, os líquidos do amor fluindo aos litros de nosso corpos,

e nos lençóis brancos eles vão como sempre se misturando...

E por mais que eu mude de idéia, isso ja deves saber:

um pedaço bem grande deste teu marido,

sempre foi teu, guardado aqui dentro,

esperando anciosamente o momento de te conhecer...

O esposo, Beto.

puro veneno...

" esconda meu rosto por favor

esconda-o no meio de tuas coxas

não peço que o faça por um êxtase de amor

ou por um frêmito de tentação

este rosto não mais pertence àquele sonhador

morto, envenenado por uma doce intoxicação 

quero apenas por que gosto do teu corpo

muito mais do que gosto do mundo,

mesmo que no buraco em teu peito

onde eu ainda cego, atirei meu coração...

abriu-se sob meus pés o chão

de um abismo negro e profundo.

e novamente assim, me humilhando te peço

que aceites meu carinho torto e deformado

acolha nesta noite meus lábios sobre teu sexo,

como um dia acolhi dentro de minhas calças, 

o distante carinho de teu amor gelado...

e se uma última vez, o meu toque aceitar

irei então admirar teu belo corpo, 

cobrindo em eclipse todo o meu...

e talvez percebas em meu negro olhar

que um plano diabólico se passa 

no coração que um dia foi seu.

e  pensarás: oh! homem patético e banal,

lhe fiz tanto mal, e por mim queima seu desejo.

e sorrindo direi: oh! tolo, que erro fatal,

morrerás sem perceber o veneno mortal 

que em tua boca despejei neste último beijo..."

O último beijo, Beto

Dr.Destino...

' eu não posso te dizer para onde estou indo,

pois nem sei onde estive até agora,

eu apenas sei que devo continuar andando,

até a minha estrada chegar ao final.

eu decidi sair na minha grande viagem, 

tentando fazer o melhor que eu consigo...

eu preciso descobrir de que material fui feito,

 sou apenas mais um peregrino tentando

descobrir onde é a minha casa.

E onde ela fica ninguem pode me dizer,

perguntas eu tenho muitas, respostas quase nenhuma.

mas nós estamos aqui para aprender, 

queimar nossos espíritos, 

e conhecer a grande verdade,

todos nós fomos crucificados, 

e eles pregaram jesus à madeira,

mas quando eu renascer, 

vocês verão uma grande mudança em mim.

Deus me fez por um motivo, 

e nada nesse mundo é em vão,

a redenção vem em muitas formas, 

com muitos tipos de dor.

ó  Deus, se você consegue me ouvir,

me mantenha sempre no caminho certo, 

pois eu não pretendo  parar de andar... '

Bem, Roberto, venho por meio desta informar-lhe que seria muito mais fácil, e menos estressante, lidar com ratinhos de laboratório do que com você ó tapada criatura.

todas as vezes que eu, seu destino, vou através de bordoadas tentando colocá-lo no caminho certo, (esse mesmo, aquele caminho que combinamos que você seguiria quando nasceu na noite mais fria do ano de 1987) ó topeira esquisofrênica, caminho este que assim como um morcego na luz do dia, você vem se perdendo constantemente, e junto com você se perde toda a minha quase inesgotável paciência de jó.

Por mais sinais que eu mande, sejam eles gentis pétalas de dente-de-leão voando na sua cara, e aparecendo até mesmo dentro de sua cueca, ou sinais maiores como fatos ruins se repetindo, ou até mesmo o portal místico que usa para conversar comigo, isso mesmo o tarot. 

eu até chego a pensar inocentemente que você ja está encaminhado, e me sento um tiquinho para descançar, e quando vejo, lá está você morcegando e chafurdando novamente no seu destino.  ó inútil sapo cego. Então decidi agir de uma maneira bem inusitada, e escrever este post para você, dentro do blog que criou (parabéns! uma atitude corretíssima) afinal de contas, nasceu para ser um escritor, e adoro ver você quando escreve aqui.

Eu compreendo que ser um ser humano como você não é tão facil, afinal você é romântico, sensivel, idiota e sonhador, resumindo, você é um louco, um demente, um exaltado. 

Mas seu caso nem mesmo um hospício ou uma frota de psiquiatras ou mesmo uma piscina de florais de bach conseguiriam resolver. você é um verdadeiro romântico.

Mas eu não reclamo das tarefas que os deuses me dão, então logo que nasceu arranjei um destino para você, seria um escritor. poderia descarregar as suas frustrações românticas no papel e na caneta, seria feliz e realizado. e pronto estava tudo bem.

Mas não foi bem assim que as coisas aconteceram. 

Mesmo eu tendo te orientado diretamente tantas vezes atrávés de sua amada mãe, Rosana, dizendo: 

Roberto, seja um bom rapaz, cuidado com as más influencias, e tenha medo do bixo papão! 

o que foi que você fez? ó tapado!

você se tornou a má influencia, namorou o bixo papão, e afastou os bons rapazes de você!!! 

Sem contar é claro que descarregou a sua frustração romântica na comida e na geladeira, enquanto se entupia de palavras não ditas. ó foca! mas graças as Parcas isso ja é passado.

O bixo papão te deu o fora, você se livrou das más influencias, começou a atrair os bons rapazes, descobriu-se como escritor e escreveu tudo até o que não devia, e assim abandonou a geladeira um pouco, ficando bem mais bonito. parabéns!

Se cercou de amigos que querem o seu bem, sua família ficou mais tranquila e amena, e aos poucos foi descobrindo suas vocações e entendendo o que eu havia planejado para o seu (brilhante) futuro. Enfim, você entendeu que deve se mudar para a cidade onde nasceu, afinal não foi atoa que nasceu lá, deve cursar a única universidade que todos os seres humanos incluindo você mesmo, sabem que é sua vocação assim que conversam dois minutos com você. 

PSICOLOGIA, E SOCIOLOGIA.

Entendeu que a atenção e o carinho que um bom rapaz dá pra você, torna a ausência e a falta de consideração de um homem errado do seu passado inaceitável. Você compreendeu que não deve ficar com alguem que você não ama, e nem com alguem que você ama demais, e não é correspondido. Parabéns! Acredite, o amor é muito complicado, e lido com ele cautelosamente. Tenha paciência consigo mesmo, com os rapazes bons que conhece, com seus amigos e com sua família. o amor é de extrema importancia mas é muito complicado, vale a pena você tentar vivê-lo um pouco, do que apenas analisá-lo. Digo o mesmo para a sua vida profissional, não tenha medo do futuro, não tenha medo de errar, apenas não tenha medo. Mudee mude-se, enfrente os obstácu-los que foram impostos, mas não desista, dedique-se, uma, duas ou mais vezes, todo o sonho precisa de uma batalha para valer a pena, e não tenha medo da realidade que irão lhe mostrar. afinal, a fantasia e a realidade andam bem juntas, e você melhor que ninguem sabe disso. Não quero apenas te criticar meu querido, mas também quero lhe dar os parabéns pelas mudanças positivas que conseguiu fazer nesses ultimos anos, eu sei melhor que todos o quanto é dificil mudar, e se você conseguiu isso pode conseguir ainda muito mais. Não tente se podar ou se encaixar, seja você mesmo sempre, essa mistura que você é, é uma mistura apenas sua, moldada e misturada na sua carne com colher de pau... pra não deixar gosto de plático. Ninguem mais possui uma mistura assim. Seja como você quiser, e dome os caminhos da sua vida. ela correrá conforme deve ser. ó fofo rapaizinho.

seja feliz, e qualquer coisa, te dou mais alguns toques quando se perder de novo, ninguem nesse planeta está completamente sozinho, lembre-se disso.

e para finalizar algumas dicas rápidas sobre o que tem feito de bom, 

e o que ainda pode melhorar:

está ótimo: 

ter noitadas com sua amiga bebendo piña-colada e falando mal dos homens.

melhor ainda: 

não peça mais pizza, você precisa perder uns quilinhos para se sentir melhor.     

está ótimo: 

andar e praticar exercícios ao ar livre.

melhor ainda: 

matricule-se de novo na academia e comece uma dieta rigorosa.

está ótimo: 

voltar aos poucos a trabalhar, e comprar suas coisinhas.

melhor ainda: 

guarde seu dinheiro para pagar todas as suas dívidas, e ficar livre.

está ótimo: 

parar de fazer uma faculdade que não tem nada haver com você.

melhor ainda:

 use o tempo livre agora para estudar para o vestibular e planejar sua mudança.

está ótimo: 

nunca mais ter entrado em contato com seus ex.

melhor ainda: 

nunca se esquecer de entrar em contato com seu atual.

está ótimo: 

escrever suas crônicas e poemas no seu blog.

melhor ainda: 

trabalhar naquele romance que você sonha há anos escrever.

está ótimo: 

se livrar de uma vez por todas de pessoas mesquinhas.

melhor ainda: 

não se esquecer dos verdadeiros amigos.

está ótimo:

saber o caminho a seguir.

melhor ainda: 

entenda que ele não será fácil, mas vai valer muito a pena.

aproveite a vida acima de tudo rapaz, 

 nos encontraremos de novo no final da estrada.

 Dr. Destino

Plagio ♥

Junte os seus trapinhos

E venha de vez pra cá

Venha com escova de dente

Com creme de barbear

Venha chinelo, pijama, manias

Com todos os seus pertences, 

Eu? eu quero pacote completo

Venha cachorro, sogro, mineiros

Com tudo o que você tenha

Eu quero tudo o que eu tenho direito!!!

Certa vez, há muitooo¹²³ tempo atrás, quando meus cabelos eram roxos e ainda me atrevia a fazer as estampas das minhas próprias camisetas, escutei uma música francesa muito antiga.

Lembro-me claramente da professora traduzindo a letra desta música na louza:

"... e se você não existisse?

me diga porque eu existiria?

... e se você não existisse?

certamente eu te inventaria! "

E por um instante uma tempestade se formou embaixo dos cabelos roxos: 

"... certamente eu te inventaria!"

E um rapaz solitário e com a imaginação fértil como eu era (sou!!!) certamente não passaria por esta vida sem criar alguém, algum ser imaginário cheio de qualidades e defeitos.

pois dito e feito.

Eu o criei. Meu Frankstein particular. ♥

Ele era e sempre foi, tudo o que eu mais precisava, tudo o que meu corpo gritava. Comecei por sua aparência, e tal qual Monet, ou Renoir, fui delineando suas formas em minha mente:

Ele seria branquinho como um copo delicioso de leite desnatado, até levemente pálido, adoro vampiros. ele teria de usar óculos também, nem que seja apenas de descanço, acho mágico

o efeito que esse adorno tem sobre mim, levando em segundos a minha mente do sagrado, ao profano. Ele também seria delicado e sensível, afinal uma alma tempestuosa como a minha

é extremamente violenta e perigosa em mãos desajeitadas. Ele deveria ser inteligente também, até bem mais que eu, e falaria bem mais que eu também, 

sobre tudo... e a cereja do bolo seria ele comer mais que eu também, claro devorando meu corpo com a mesma habilidade e gula com que devorasse a comida.

um Petit Gateau ♥

E assim o tempo passou...

E as vezes me envolvia com um rapaz de óculos, mas ele era burro. então pensava: "Ah, mas o meu será inteligente! ;D "

E quando me envolvia com um rapaz que comia apenas uma folha de alface por refeição, eu me consolava: "Ah, mas o meu comerá este alface dentro de dois x-burgueres! hehe!"

E então a minha vida sentimental foi ficando mais amena e tolerável, era raro eu me apaixonar por alguém, geralmente sofria! (antes, durante e depois da relação!). e sofria sozinho.

pensava: "Onde diabos foi parar o famoso ' amor tranquilo com sabor de fruta mordida...' que o eterno Raul Seixas vivia pregando ?

Minha vida sentimental foi por muito tempo arrastada como uma pesada corrente, e o pobre Roberto Torta se sentia ainda até muito original por ter "criado" um ser tão diferente

e belo para amar dentro de si mesmo, e assim escutando suas musicas romanticas na companhia dele, interromper o som de sua própria dor.

Coitado! O destino ainda lhe pregaria mais uma peça, afinal, ele não "criou" coisa alguma, apenas plagiou.

Pois aos 21 anos de idade, viu-se face a face com o homem que sempre o acompanhou do lado de dentro.

O cara de seus sonhos, sempre existiu, e começou a existir até mesmo antes dele. Ele era detentor de todos os pré-requisitos sitados á cima, e ainda alguns itens de fábrica, exemplo:

-olhos castanhos, bons para revê-lo.

-sorriso largo, bom para devorá-lo.

-uma luz interior incrível, boa para esclarecer qualquer coisa.

-sonhos e desejos lindos, capazes de fazê-lo acordar.

-uma voz encantadora, capaz de convencê-lo a fazer o que quer que seja.

-taras, uma boa desculpa para mordê-lo.

-e por ultimo, algumas Luas, para esperá-lo!

O sentimento que ele trazia dentro de seu peito, e lhe mostrou, consegue ser muito maior que o amor tranquilo com sabor de fruta mordida.

É um outro tipo de amor. Um tipo de amor que te da coragem suficiente para ser bem melhor do que é, e nada menos que isso.

Um tipo raro de amor que faz com que você sinta que tudo é possível.

e hoje, tal qual o cantor francês, posso dizer:

"... e se você não existisse?

certamente eu te inventaria! "

p.s. e ainda bem que você existe ♥